Passos mantém críticas ao Governo mas modera discurso alarmista

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Fabio Augusto

De primeiro-ministro a líder da oposição, Passos Coelho inverteu o seu papel como actor político há um ano, mas não deixou de usar na lapela do casaco o adorno que adoptou quando era chefe de Governo: O pin com a bandeira de Portugal. O líder do PSD manteve o visual tal como conservou boa parte do discurso desde que o seu Governo foi derrubado: o Executivo de António Costa gera desconfiança na economia e tem de se valer dos seus apoios à esquerda para sobreviver. Passos Coelho moderou entretanto o nível de alerta sobre as consequências da governação “radical” do PS, subiu o tom inquisitório sobre a Caixa Geral de Depósitos (CGD) por força da actualidade, mas deixou cair o papão da Europa.

Um ano depois de ser forçado a assumir a liderança da oposição, Passos Coelho mantém, pelo menos, uma linha discursiva intacta – a de que o actual Governo PS apoiado por PCP, BE e PEV afasta os investidores. “Quando querem acabar com a riqueza, isso não gera investimento”, afirmou, no passado dia 7, num jantar com militantes em Braga. O mesmo dizia há um ano no primeiro debate quinzenal como líder da oposição: “É muito difícil incutir confiança aos agentes económicos quando os verbos da maioria, que agora apoia o Governo, são 'repor, revogar e eliminar'”. Agora, já pôde acrescentar que o PSD está em condições de oferecer uma visão “mais construtiva e mais positiva”.

Desde que a maioria de esquerda fez cair o Governo PSD/CDS que Passos Coelho remeteu para PCP e BE o ónus de apoiar o executivo de António Costa. Ou devolvam a “palavra ao povo”. Esta regra foi de imediato quebrada com a viabilização da solução para o Banif – através de um Orçamento rectificativo – mas que foi justificada com o “sentido de responsabilidade”. A banca, em particular a CGD, viria a ganhar contornos de polémica nacional por causa da criação de um regime de excepção para os administradores. No último mês, no Parlamento, Passos Coelho deixou de lado as questões do défice para inquirir António Costa sobre os motivos da demissão de António Domingues.

Em Dezembro de 2015, um conselho nacional do PSD ouvia que o líder do partido era recandidato ao cargo e recomendava por unanimidade o apoio a Marcelo Rebelo de Sousa na corrida eleitoral para a presidência da República. Um ano depois, o desconforto no PSD já lança desafios à liderança de Passos Coelho. E o verniz já estalou entre o Presidente da República e o líder da oposição.

Depois de derrubado o Governo PSD/CDS e do discurso da falta de legitimidade plena do executivo de António Costa, Passos Coelho virou a página. “Nós desejamos sinceramente que não haja crises políticas e que a actual maioria que suporta o Governo se entenda”, afirmou na mensagem de Natal de 2015. Foi um ano de divergências profundas entre o PS e o PSD, que culminou numa aparente aproximação em torno da descentralização das competências para as autarquias. Só o próximo ano dirá se o tema pode vir a ser o primeiro consenso da legislatura.

Desde que passou para a oposição que Passos Coelho se esforçou por marcar as diferenças face à governação de António Costa. Há um ano, o líder do PSD era mais alarmista sobre as consequências das opções do Governo: “Só espero que o excesso de voluntarismo que parece querer acelerar o ritmo de remoção de tais medidas não venha a acarretar novos sacrifícios, forçados pela imprudência orçamental e pela vontade de criar uma impressão de bondade”. Pelo meio falou do “diabo”, mas agora Passos Coelho não é tão dramático – até graceja com os Reis Magos -  e já nem questiona a compatibilização das medidas de reposição dos cortes nos rendimentos com as regras europeias. No entanto, é coerente na avaliação da política do Governo: “Estamos hoje pior que há um ano. Em todos os indicadores, o país está aquém do que fomos capazes de fazer em 2015”. 

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