Trump diz que só aceitará um resultado eleitoral “claro”

No último debate com Hillary Clinton, o republicano recusou dizer se concederia uma derrota. Perante as críticas, Donald Trump reformulou a declaração.

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Trump e Clinton no debate que acabou dominado pela questão de uma concessão de derrota PAUL J. RICHARDS/AFP

O que acontecerá se Donald Trump perder as eleições e não conceder a derrota? A pergunta foi feita por muitos na sequência do momento mais marcante do debate da noite de quarta-feira, em que o republicano se recusou a dizer que reconheceria uma derrota. 

No dia seguinte, Trump parece ter tentado corrigir o tiro da afirmação incendiária, afirmando agora que se vencer, ou se o resultado foi claro, o aceitará. Reservando-se o direito de desafio legal caso não seja.

Trump estava sob críticas de todos os campos, de analistas a políticos até do seu próprio campo, por ter desacreditado a democracia americana ao responder sobre a tradicional concessão. “Vou manter-vos em suspense”, disse Trump quando questionado a primeira vez sobre se reconheceria uma potencial derrota. “Verei na altura”, disse uma segunda vez. Isso é aterrorizador, reagiu Hillary Clinton.

A transição pacífica do poder é considerada a pedra sobre a qual assenta toda a democracia da América. As eleições podem ser renhidas, os debates duros, mas o derrotado termina admitindo que perdeu.

“Ele já não está a concorrer contra Clinton. Está a concorrer contra a nossa democracia”, escrevia a (liberal) revista norte-americana Slate. Nicole Hemmer, professora da Universidade da Virgínia e autora de um livro sobre media conservadores, argumentou que “a vitória ou derrota de Trump importa menos se ele levar connosco as nossas instituições democráticas”. “Os americanos não devem esperar para ouvir o veredicto de Trump na noite eleitoral, ele deve esperar para ouvir o nosso”, disse ao site norte-americano Politico.

O congressista da Florida Carlos Curbelo reagiu no Twitter: “A aceitação dos resultados da eleição é fundamental para a nossa democracia e Constituição. Isso não pode ser nunca destruído”.

A conselheira da campanha presidencial do republicano John McCain em 2008 Nicolle Wallace comentou na estação de televisão NBC que com esta afirmação Trump fez o equivalente a “deitar-se no seu caixão com um martelo e um prego e pregá-lo ele próprio”.

O desafio de Al Gore

Alguns republicanos lembraram que já houve um desafio a um resultado eleitoral, quando em 2000 o democrata Al Gore pediu uma recontagem de votos na Florida. Mas este caso foi particular – Gore tinha vencido em número de votos totais, mas não no colégio eleitoral, havendo dúvidas sobre a vitória mínima de George W. Bush na Florida, que mudaria as contas do colégio.

Mas este caso terminou, precisamente, com um discurso de Gore em que este concedeu de modo inequívoco a derrota para evitar uma divisão na América.

Trump, que tem apresentado um quadro de conspiração (de políticos, media, etc) para prejudicar a sua candidatura (assente na sua imagem anti-establishment), teria hipóteses para desafiar uma vitória de Clinton se o resultado fosse muito próximo, pedindo uma recontagem como fez Gore, ou avançando para processos por suspeita de fraude em alguns estados.

Uma recusa em conceder derrota além desses casos seria legalmente irrelevante. Mas – e daí talvez o esclarecimento do candidato republicano no day after – seria vista como um incentivo a uma divisão e até a violência. 

Trump fez então uma semi-marcha-atrás nesta quinta-feira, declarando que aceitaria “totalmente” o resultado da eleição, se vencer ou se este for um resultado “claro”. “Aceitarei um resultado claro mas também me reservo o direito de o desafiar legalmente caso seja questionável”, disse.

A questão da aceitação ou não do resultado foi o momento que marcou o terceiro e último debate entre os dois candidatos antes das eleições de 8 de Novembro. Ainda houve tempo para falar de outras questões, como política internacional, quando Clinton acusou Trump de ser uma “marioneta de Putin” e este respondeu “marioneta és tu”, ou da abertura de fronteiras, quando Trump disse que havia “bad hombres” no país, e Clinton negou apoiar uma política de “fronteiras abertas”. 

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