E se o ouro, a prata e a platina dos pacemakers fossem reutilizados?

Cientistas da Universidade do Porto estão a analisar quantos pacemakers serão necessários para tornar o negócio do seu reaproveitamento rentável.

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Radiografia ao tórax com pacemaker Lucien Monfils/Wikicommons

Investigadores da Universidade do Porto estão a estudar formas de valorizar e reutilizar metais nobres como o ouro, a prata e a platina presentes nos pacemakers e noutros dispositivos implantáveis utilizados no tratamento de complicações cardíacas.

António Guerner Dias, coordenador do projecto e docente na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), disse à agência de notícias Lusa que a ideia surgiu no âmbito de uma unidade curricular de Gestão de Resíduos Sólidos, que inclui visitas a diferentes entidades que lidam com diversas tipologias de resíduos.

Durante as visitas verificam-se os diferentes tipos de resíduos produzidos num hospital e foi constatado que dispositivos como os pacemakers, entrando em contacto com tecidos biológicos, acabam por ser classificados como resíduos hospitalares do grupo III, devendo ser incinerados ou sujeitos a outro tratamento que lhes permita a classificação de resíduo não perigoso.

Na actual legislação, os resíduos hospitalares dividem-se por quatro grupos, ficando nos dois primeiros os que não representam qualquer tipo de perigo, enquanto nos dois últimos são colocados os que podem ter riscos biológicos associados, como os pacemakers e outros tipos de equipamentos cardíacos implantáveis no organismo humano, explicou o investigador.

Por norma, os equipamentos colocados no grupo III são enviados para incineração ou, “desde que devidamente tratados e desinfectados”, podem ser classificados como resíduos hospitalares do grupo I ou II (sem qualquer tipo de perigo), podendo então ser encaminhados para deposição num aterro sanitário ou para qualquer outro processo de eliminação.

“Quando um pacemaker passa por esse processo de limpeza” acaba por se tornar um resíduo igual aos encontrados nos equipamentos eléctricos e electrónicos”, que “são, muitas vezes, reaproveitados”, indicou António Guerner Dias.  

Os pacemakers, tal como muitos dos equipamentos eléctricos e electrónicos mais comuns (telemóveis ou computadores), são constituídos, entre outros componentes, por uma placa de circuito impresso que contém metais nobres, como é o caso do ouro, da prata ou da platina, em pequenas quantidades, da ordem de alguns miligramas.

Para o reaproveitamento daqueles componentes é necessária uma quantidade elevada de dispositivos, visto que os pacemakers modernos pesam entre 20 a 30 gramas, “o que não é nada”, referiu o investigador.

“Obter duas ou três centenas de miligramas de ouro a partir de um pacemaker é algo extraordinário”, acrescentou António Guerner Dias, sublinhando que para se ter um quilo de ouro seriam necessárias algumas centenas de milhar de pacemakers.

Em Portugal, a média de dispositivos do género substituídos por ano ronda os 8000, o que para o investigador “não é um número muito significativo”. Porém, “se aos pacemakers substituídos anualmente em Portugal se juntarem os que são substituídos em toda a Europa, obtém-se uma quantidade que pode justificar a criação de uma unidade de recolha, tratamento e aproveitamento” desse material, considerou António Guerner Dias.

Neste momento, em parceria com alunos do mestrado em economia e gestão do ambiente, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, está a ser analisada a evolução dos mercados desses metais nobres, em função da evolução da cotação dos metais, de forma a verificar quantos pacemakers seriam necessários para tornar o negócio rentável.

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