“Não conheço o segurismo”

“Tenho perspectivas e expectativas muito positivas” em relação ao Governo, afirma Maria de Belém Roseira que não se mostra preocupada pela falta de apoio do PS.

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Rui Gaudêncio

Maria de Belém Roseira diz que não convida ninguém para a sua campanha nem pede apoio de ninguém. Não se mostra preocupada por não ter o apoio do PS.

Que espectativa é que tem em relação ao Governo liderado por António Costa?
Tenho perspectivas e expectativas muito positivas. Tem havido afirmação por parte dos vários partidos que integram a coligação que sustenta o Governo no sentido de que com base nas políticas que o Governo se comprometeu desenvolver e empreender que esse apoio está garantido. É muito importante precisamente para que nós possamos ter uma voz muito activa na União Europeia que tenhamos um quadro de estabilidade política governativa.

De que forma pretende monitorizar esse acordo, reunindo com os vários partidos que suportam o Governo?
É natural que a Presidente da República tenha contactos com os partidos que têm assento parlamentar, é muito benéfico e muito positivo ter contactos directos para poder, se for caso disso, prevenir situações problemáticas que possam ser resolvidas. E a minha forma de actuar é uma actuação muito próxima dos partidos políticos.

Se o Governo falhar o apoio parlamentar procurará uma solução no quadro da Assembleia ou antecipará eleições?
Não quero trabalhar com base em cenários no sentido da instabilidade, porque acho que agora devemos ter agora uma mensagem forte de estabilidade.

Isto não é trabalhar com cenário é, no fundo, também perceber o tipo de tensão que pode ter. Se por acaso o Governo cair, a sua intenção será tentar, neste quadro parlamentar, uma solução ou deve-se ir logo para eleições?
Deve-se tentar sempre uma solução no quadro parlamentar. Porque, se eu prezo muito a estabilidade e se prezo muito a imagem de estabilidade que o nosso país dê, designadamente para poder empreender negociações com força, acho que se deve investir o mais possível nesse quadro de estabilidade.

Conta ter presença de muitos dirigentes socialistas nas suas acções de campanha e nos tempos de antena?
É natural que tenha porque eu sou militante do PS, portanto tenho boas relações com o PS. Mas como vos disse a minha candidatura é suprapartidária e, portanto, contarei ter pessoas do PS e pessoas de outras opções políticas ou pura e simplesmente independentes.

Espera receber o apoio de António Guterres?
Não estou à procura de ir buscar apoios que não sejam espontâneos. Porventura haverá candidatos que se dirigem eles próprios às pessoas pedindo o seu apoio. Eu tenho feito de outra maneira. Estou receptiva aos apoios que me procuram que vêm ter comigo.

Mas há uma ala do PS que está consigo Almeida Santos e Jorge Coelho.
Manuel Alegre.

Há os seguristas também.
Eu não conheço o segurismo.

Não?
Não, não conheço o segurismo. O PS fez umas eleições primárias e elegeu um secretário-geral, esse é o secretário-geral do PS. No PS não há ismos. No PS há órgãos legitimamente eleitos e depois há diversidade de opiniões, que é uma grande riqueza do PS. Mas isso é uma coisa diferente de haver ismos. Eu como militante que sou, com 40 anos de militância, como é evidente aquilo eu procurei sempre é uma boa relação com o PS, mas uma grande independência relativamente ao PS uma vez que a minha candidatura não é uma candidatura partidária.

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Com o apoio de António José Seguro conta?
Não faço ideia, não falei com ele. Eu não tenciono falar com pessoas pedindo o apoio.

Foi o secretário-geral do seu mandato como presidente. Tem a expectativa que Seguro apareça na sua campanha?
Ele tem tido uma participação ínfima, nos actos eleitorais.

Mas isso na vida partidária. Não tem essa expectativa?
Não vou contactar.

Como vê a presença de membros da direcção do PS na candidatura de Sampaio da Nóvoa?
Com toda a naturalidade. Ele apresentou a candidatura a Presidente da República com uma grande antecedência, muitas pessoas manifestaram apoio, o que é natural. Não apoiando o PS nenhum candidato é natural que muitas pessoas apoiem a dele, apoiem a minha ou até outro candidato.

Há pessoas que interpretam o facto de a direcção do PS não a apoiar como uma eventual retaliação por a senhora, enquanto presidente do PS, quando foi a campanha das primárias e quando o dr. António Costa desafiou o dr. António José Seguro na liderança do partido, que a senhora não fez logo o congresso como António Costa queria.
Eu não podia fazer o Congresso. Se tivesse havido acordo entre o líder que estava em funções e o militante socialista que queria assumir a liderança podia ter havido uma convocação do Congresso, com eleições prévias para secretário-geral. Não tendo havido esse acordo e estando o lugar de secretário-geral legitimamente ocupado, nós podíamos entrar em litigância jurídica.

Na altura percebeu-se.
Mas é muito importante, provavelmente a questão não estaria resolvida hoje. Aquilo porque se optou foi avançar para primárias, que foi considerado uma grande abertura e um pioneirismo no aprofundamento da democracia. Esse processo correu com toda a lisura e foi muito apreciado.

Não vê que haja qualquer espécie de retaliação nem razão para isso?
Como presidente do PS tinha de garantir a legalidade no funcionamento partidário.

Tem o apoio de quem na actual direcção do PS e do Governo? Sabemos que João Soares vai participar na campanha.
Marcos Perestrello também, o dr. Manuel Delgado. Agora, como disse, estou muito tranquila em relação aos apoios, porque acho que é importante que as pessoas dêem a cara mas também é natural que as pessoas sendo membros do governo queiram ter uma posição de equidistância.

Sente-se confortável?
Sinto-me absolutamente confortável.

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