Para um funeral “verde”, pense sobretudo na cerimónia

A preparação do corpo, a fabricação da urna, a iluminação, aquecimento ou arrefecimento do local do velório, a correspondência e sobretudo o transporte dos parentes e amigos pesam três vezes mais do que aquilo que se passa a seguir

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Diogo Baptista

Se está preocupado com o impacto ambiental dos funerais, o melhor é prestar mais atenção às cerimónias do que à cremação ou à sepultura. Uma tese de mestrado da Universidade de Groningen, na Holanda, comparou diferentes formas de funerais e chegou à conclusão de que a opção escolhida é o que menos importa. O maior impacto ambiental ocorre antes do adeus final.

A preparação do corpo, a fabricação da urna, a iluminação, aquecimento ou arrefecimento do local do velório, a correspondência e sobretudo o transporte dos parentes e amigos pesam três vezes mais do que aquilo que se passa a seguir. Os cálculos feitos pela investigadora Elisabeth Keijser levam em conta tudo, numa técnica conhecida como análise de ciclo de vida.

Nas opções finais, após o velório, a sepultura tradicional é a que tem o maior impacto. A razão está sobretudo na área de solo ocupada pelos cemitérios. Na cremação, pesam o consumo de energia e as emissões de poluentes. Em uma a duas horas, um corpo sem vida é transformado em cinzas, consideradas inertes. “O que resulta da cremação não é mais do que ossos calcinados”, afirma Odete Lourenço, da Unidade de Serviços Públicos Ambientais de Loures. Depois da incineração ainda são separadas eventuais peças de metal, como próteses. O que resta é triturado e pulverizado, antes de ser colocado numa urna.

A operação toda requer alguns cuidados especiais. As urnas funerárias têm de conter o mínimo de metais. As alças são retiradas e procura-se evitar modelos com dobradiças. Qualquer material sintético – como o verniz da madeira ou os plásticos do revestimento – pode dar origem a poluentes orgânicos.

A preparação do corpo também tem influência. Os produtos utilizados para o preservar também podem ser fonte de poluentes orgânicos, depois da incineração. Os pacemakers têm de ser retirados, pois provocam explosões dentro do forno crematório. Amálgamas antigas nos dentes podem, uma vez fundidos, resultar em gases com mercúrio.

Os fornos crematórios modernos contam com sistemas de tratamento de gases, que permitem acompanhar em tempo real as emissões de alguns poluentes. Alguns países têm normas sobre esta monitorização ou para a redução de alguns poluentes, como o mercúrio. Em Portugal, não há legislação específica e os crematórios não são obrigados a comunicar as suas emissões às autoridades ambientais, segundo informação da Agência Portuguesa do Ambiente.

Outras alternativas consideradas mais ecológicas em relação à cremação e à sepultura começam a surgir. Uma delas consiste em congelar o corpo em nitrogénio líquido, até que fique quebradiço. O cadáver é depois fragmentado e desumidificado, restando um pó estéril, livre de microorganismos, que pode ser enterrado no solo. Este processo foi desenvolvido na Suécia e também está acessível no Reino Unido.

Uma outra opção é um processo que envolve submeter o corpo a uma solução alcalina, sob pressão e calor, resultando numa decomposição rápida. O resultado também são cinzas finas. Esta técnica já está a ser aplicada comercialmente em países como os EUA e o Reino Unido.

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