Um dos reencontros de Mourinho vai ser especial, o outro não

FC Porto defronta nesta terça-feira o Chelsea, em jogo a contar para a segunda jornada do Grupo G.

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Depois da convivência turbulenta no Real Madrid, Mourinho e Casillas reencontram-se como adversários Reuters

José Mourinho vai reencontrar-se nesta terça-feira no Estádio do Dragão com dois passados. Um mais longínquo e de memória feliz, outro mais recente e turbulento. O técnico do Chelsea vai defrontar o FC Porto, clube onde foi campeão europeu, e Iker Casillas, com quem não teve propriamente uma relação pacífica nos tempos do Real Madrid. E isso foi bem perceptível no discurso do técnico português na antecipação do jogo (19h45, RTP1). O FC Porto merece referências elogiosas, até com alguma emotividade à mistura, e Casillas, que esta época trocou o Real pelo FC Porto, é reduzido a uma única referência em poucas palavras.

“Se me cruzar com Casillas antes ou depois do jogo, obviamente vou cumprimentá-lo.” E não vale a pena fazer mais perguntas, advertiu o técnico português que irá cruzar-se pela primeira vez com o guarda-redes espanhol desde que ambos coincidiram no Real Madrid entre 2010 e 2013. Nunca terá sido uma convivência pacífica, mas foi de conflito declarado apenas na última época de Mourinho no Bernabéu, em que Casillas passou de intocável a suplente, e a sua aura foi-se degradando mesmo depois do técnico português abandonar o Real, um processo que iria culminar na saída de “San” Iker para o Dragão. Se na conferência de imprensa, pouco falou sobre Casillas, à RTP Mourinho disse mais qualquer coisa, negando a existência de qualquer problema entre os dois: “Nem sequer sei do que é que vocês falam.”

O jornalista Diego Torres, autor do livro A Guerra de Mourinho, escrevia ontem no El País que o que aconteceu entre o treinador português e o guarda-redes espanhol foi “uma campanha de demolição profissional”. Mourinho teria os seus anticorpos no balneário merengue e Casillas seria um deles. Numa altura em que o Barcelona era o inimigo, Mourinho entendeu que a atitude conciliadora de Casillas com Xavi e Puyol, os capitães blaugrana, era uma dissidência à sua estratégia.

Em Dezembro de 2012, aconteceu o impensável, Casillas foi suplente num jogo frente ao Málaga, em favor de António Adán, actualmente no Bétis de Sevilha. “Foi uma decisão técnica. Podem inventar o que quiserem. Adán está melhor que Iker. É a minha opinião”, justificou na altura o técnico português. No jogo, Casillas ainda voltou à baliza do Real devido à expulsão de Adán e foi mantendo o lugar até se lesionar. Depois, o Real contratou de emergência Diego López ao Sevilha e este manteve a titularidade até ao fim da época, mesmo depois de Casillas estar apto.

A verdade é que, nem com a saída de Mourinho, Casillas voltou a ser intocável e foi alternando entre o banco e a titularidade nas épocas seguintes com Ancelotti. O próprio nunca falou muito sobre o assunto e só numa entrevista recente, já depois de assinar pelo FC Porto, é que assumiu que havia problemas com Mourinho: “Embora houvesse vários jogadores que não se davam bem com Mourinho, eu era o único sobre quem se falava. É como a relação de um casal, que com o tempo perde o feeling e tudo começa a deteriorar-se.”

Mourinho, o portista
FC Porto e Chelsea encontram-se em momentos diferentes. A equipa de Julen Lopetegui lidera a Liga portuguesa (em igualdade com o Sporting), o Chelsea tem tido um início de defesa do título de campeão da Premier League abaixo das expectativas, com um 15.º e metade dos pontos (8) do líder Manchester United (16). Neste Grupo G, serão as duas equipas favoritas ao apuramento.

Ao contrário da aparente indiferença sobre Casillas, este não será um regresso emocionalmente fácil para Mourinho a uma casa onde foi muito feliz, com vários títulos conquistados em dois anos e meio, incluindo uma Liga dos Campeões. Foi o próprio treinador, que nunca ganhou como visitante no terreno do FC Porto, a confessar-se como um portista e de sentir orgulho por fazer parte da história de um clube tradicionalmente ganhador. Algo que, acrescenta, vai tentar deixar de lado quando estiver no banco do Chelsea: “Estar na história do clube faz amolecer o meu coração de adversário. É um tipo de sensação que eu não quero ter amanhã, quero ter o coração duro. Amanhã de portista não vou ter nada.”
 

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