Menor vendida duas vezes pela mãe foi escravizada e abusada durante sete anos

Rapariga romena foi vendida aos 10 anos a uma família na Roménia e aos 12 a um casal em Ovar, que a obrigou a casar pela lei cigana com um dos filhos. Tinha ainda de pedir dinheiro pelas ruas e roubar em lojas.

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Fernando Veludo/nFactos

Durante sete anos, uma menor romena foi duas vezes vendida pela mãe, escravizada, vítima de maus tratos e abusada sexualmente. Esta terça-feira, uma investigação da Polícia Judiciária (PJ) do Porto pôs finalmente termo a uma vida de terror durante a qual a rapariga, actualmente com 17 anos, foi obrigada a mendigar pelas ruas e a roubar em estabelecimentos comerciais em Ovar.

Terá sido a própria menor, agora colocada pelas autoridades numa casa-abrigo para vítimas de violência, quem, ao fim de vários anos, conseguiu denunciar a situação à polícia.

Um casal de vendedores ambulantes romenos suspeito de a subjugar foi detido em Ovar. Interrogados por um juiz esta quarta-feira, vão aguardar o desenrolar das investigações em prisão preventiva. O homem de 37 e a mulher de 36 anos são suspeitos de tráfico de seres humanos, abuso sexual de criança, maus tratos e falsificação de documentos.


Já a mãe continua em liberdade na Roménia. A polícia portuguesa vai agora informar as autoridades daquele país das suspeitas que recaem sobre a progenitora, adiantou ao PÚBLICO fonte da PJ. A rapariga vivia com os detidos numa casa em Ovar depois de ter sido vendida pela mãe quando tinha 12 anos, por uma quantia que a polícia ainda não apurou. Face aos abusos de que foi alvo, a PJ acredita que vivia “uma situação marital”. Foi obrigada a casar-se, de acordo com a lei cigana, com um dos filhos dos dois suspeitos detidos pela Judiciária, de acordo com fonte ligada ao processo.

A menor era obrigada a levantar-se todos os dias às 6h. “Tinha a seu cargo toda a lida doméstica da casa, incluindo zelar pelos cuidados de cinco filhos menores dos suspeitos, para além de ser por estes obrigada a praticar furtos em alguns estabelecimentos comerciais”, refere a PJ em comunicado. Quando a menor não conseguia roubar ou não desempenhava as tarefas domésticas de que era incumbida, os suspeitos, que há vários anos recebiam o Rendimento Social de Inserção, espancavam-na “com um bastão” entretanto apreendido pelos investigadores, relata fonte da PJ.

Esta não foi, porém, a primeira vez que foi vendida e escravizada. Quando tinha 10 anos foi comprada por outra família na Roménia. Durante um ano foi obrigada a mendigar pelas ruas e também forçada a “manter uma relação marital contra a sua vontade”. Ao fim desse tempo foi devolvida à mãe, que a vendeu ao casal que a trouxe para Portugal e se estabeleceu em Ovar.

Por cá, protagonizou inúmeros furtos em lojas, mas nunca terá sido apanhada ou tão pouco referenciada pela PSP ou pela GNR na sequência das queixas do proprietários dos estabelecimentos, o que poderia ter permitido às autoridades descobrir que era afinal vítima de maus tratos.

A falsificação da identidade da menor, fundamental para ter entrado em Portugal sem levantar suspeitas, terá também contribuído em alguma medida para que os crimes de que foi alvo tivessem passado despercebidos à polícia. 

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