Queima do Judas evoca a construção naval de Vila do Conde

Espectáculo que inclui a Leitura do Testamento do traidor de Cristo volta a ser organizado pela Nuvem Voadora.

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Ebento está marcado para as 23h30 deste Sábado de Aleluia no Largo da Alfândega Régia Lara Jacinto

A Associação Cultural Nuvem Voadora organiza pelas 22h30 deste Sábado de Aleluia, em Vila do Conde, um espectáculo de teatro de rua sobre os antigos estaleiros navais, associado à tradicional Leitura do Testamento e Queima de Judas, neste dia. A julgar pelo que sucedeu nos últimos anos, o nicho histórico junto à margem do rio Ave deve receber milhares de pessoas que procuram apreciar uma criação artística de rua com uma dimensão pouco comum e uma temática apelativa.

Na última década, a Associação tem escolhido temas diversos – sempre com relação com Vila do Conde - como a navegação marítima, a pesca (pelo povo das Caxinas), as rendas de bilros, a presença de uma numerosa comunidade chinesa, o estado do Mosteiro de Santa Clara e até personagens que marcaram a cultura local, como José Régio, Ruy Belo e Sónia e Robert Delaunay.

“Em 2015, a Queima do Judas propõe-se ir ao encontro dos vila-condenses que estiveram ligados aos antigos estaleiros navais de Vila do Conde para ouvir as suas histórias e recuperar as memórias desta arte ancestral da cidade. Uma forma de homenagear também os mais velhos e a sua sabedoria de vida, aqueles que nos contam as histórias que melhor nos permitem entender o futuro”, lê-se na página da associação que, para o espectáculo, conta com a participação, na cenografia, de duas companhias ligadas ao teatro de marionetas: Mandrágora e Boca de Cão.

Mas o evento socorre-se também da vontade de “centenas de pessoas do movimento artístico e associativo” que trabalham semanas a fio para que tudo corra bem. “Nesse momento único de celebração do sagrado e do profano, de humor, ironia e sátira, confluem áreas artísticas tão diversas como o teatro, o circo, a dança, as artes plásticas, a música, o vídeo e a fotografia”, acrescenta a associação.

A direção artística do espectáculo é de Pedro Correia que partilha a dramaturgia com João Pedro Azul. O Largo da Alfândega Régia (onde está acostada a réplica em tamanho natural de uma nau quinhentista) era, precisamente, o local dos estaleiros de construção naval em madeira, antes de estes serem transferidos, a meio da década de noventa do século passado, para Azurara - ou seja, para a margem esquerda do rio Ave. Uma pequena estrutura museológica ainda recorda a existência dos estaleiros, mas o certo é que a mudança esbateu a forte ligação que a cidade teve a uma actividade que, durante séculos, potenciou outros negócios nas imediações das oficinas ao ar livre.

A Nuvem Voadora centra o espectáculo na vivência de uma tasca que servia os carpinteiros e outros trabalhadores, para, de uma forma divertida, evocar uma profissão e um local históricos para uma terra de pescadores e mareantes. "À tasca, à tasca, senhores! Oh, que maré tão de prata! Um vinhozinho que mata e valentes remadores!", foi a frase que espevitou a criação.     

Além da evocação dos estaleiros, será lido o Testamento do Judas, um texto em quadras, de tom mordaz, para o qual foi feito um apelo à participação de toda a população. Depois, à meia-noite, como manda a tradição, será imolado o enorme boneco que simboliza o traidor de Cristo.

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