Villas-Boas terminou com o reinado de Pinto da Costa no FC Porto
Antigo treinador alcançou um resultado contundente: 80% dos votos. Pela candidatura de Pinto da Costa, foi Vítor Baía a dar a cara pela derrota. O clube portista entra numa nova era.
Foi um dia histórico para o FC Porto. Depois de 42 anos de Pinto da Costa na presidência, os sócios portistas elegeram neste sábado um novo presidente. André Villas-Boas, antigo treinador dos “azuis e brancos”, vai liderar os destinos do clube nos próximos quatro anos, depois de derrotar o histórico dirigente.
Cerca de três horas após o fecho das urnas, Vítor Baía reconheceu a derrota de Pinto da Costa: “Os sócios são quem manda no clube, assim o desejaram. Há que preparar a transição.”
A declaração foi feita quando ainda não eram conhecidos os resultados oficiais - estes só viriam a ser divulgados muitas horas depois, já de madrugada. Villas-Boas ganhou com 80% dos votos, enquanto Pinto da Costa alcançou 19,5% e Nuno Lobo não foi além dos 0,2%.
Baía, até agora vice-presidente, deu a cara pelo desaire daquela que considerou ser “a pessoa mais importante da história do FC Porto”. Questionado sobre a reacção de Pinto da Costa, Baía afirmou que aquele não era um “momento de felicidade”, uma vez que “o senhor presidente tem um amor e paixão incríveis pelo FC Porto”. O ainda presidente saiu do Estádio do Dragão sem proferir declarações.
Estava assumida a derrota numas eleições históricas e em que votaram mais de 26 mil pessoas, o que mais do que duplicou o anterior recorde, fixado em 1988 quando 10.700 eleitores decidiram pela reeleição de Pinto da Costa.
André Villas-Boas falou aos apoiantes já perto da 1h de domingo, declarando que “o FC Porto está livre de novo” e agradecendo a mobilização expressiva de sócios que permitiu a sua eleição como presidente. “Os associados, reais detentores do clube, ditaram a mudança”, sublinhou o antigo treinador, deixando a garantia de que está pronto para “responder com trabalho às exigências” dos adeptos: “ganhar, conquistar títulos e sustentar o nosso clube para o futuro”.
Ao longo do dia de sábado, o entusiasmo era palpável, com muitos sorrisos, e nem a ameaça de chuva afastou os associados portistas.
O dia começou com um pequeno sobressalto numa das 44 mesas de voto. Um pedido para a troca de delegados da lista A (Pinto da Costa) obrigou a um atraso de sensivelmente 25 minutos na abertura de portas. As várias centenas de pessoas que se alinharam junto ao Estádio do Dragão antes do arranque da votação fizeram um pequeno compasso de espera e, perto das 9h30, receberam “luz verde” para começarem a entrar.
Esta foi uma ideia comum a muitas pessoas, antecipando a forte mobilização matutina. Maria chegou à fila ainda antes da abertura das portas, estando mais de duas horas à espera para colocar o seu voto na urna. “Estou a gostar desta mobilização, mas foi um bocado demorado. Inicialmente fiquei satisfeita por ouvir que existiam 44 mesas de voto, mas acho que era preciso o dobro”, lamentou, já perto das 13h.
Com camisola, cachecol e boné do FC Porto, a “dragona” votou em André Villas-Boas, apesar de admitir algum receio em anunciar isso ao mundo. “Sim, tenho algum medo dos Super Dragões, não vou mentir. Mas, das conversas que ouvi enquanto estava na fila, parece-me que as eleições vão ser do André Villas-Boas, apesar de reconhecer que a forma como ele saiu para o Chelsea [em 2010/11] deixou alguma mágoa que ficou ainda por sarar.”
Desde os primeiros minutos da manhã que se tornava claro que o recorde de votação iria ser ultrapassado. Em 1988, mais de 10.700 associados votaram para a reeleição de Pinto da Costa, com esse número a ser ultrapassado logo ao início da tarde, prova da importância destas eleições para o universo “azul e branco”. Pelas 13h, o recorde já tinha sido batido. Às 18h, mais do que dobrado. Com o passar das horas, as filas iam diminuindo. Até que, perto das 20h, algumas das mesas já não tinham qualquer fila.
Da lista A partiram acusações de que André Villas-Boas perturbou o desempenho desportivo da presente temporada. No lado da lista B, expressou-se a confiança na vitória e satisfação pela mobilização. Já Nuno Lobo, líder da lista C, antecipou uma recandidatura em 2028, ainda antes de serem conhecidos os resultados.
Marta Massada, médica no clube e candidata a vice-presidente pela lista de Pinto da Costa, analisou com elevação o adversário eleitoral, considerando que a grande mobilização de associados pode ser creditada a André Villas-Boas e elogiando a solidez das propostas apresentadas.
“De facto existe um outro candidato que mobilizou muita gente, um fortíssimo candidato, com uma candidatura muito bem construída e objectivos sólidos. Acredito que tenha sido a candidatura de Villas-Boas que tenha mobilizado toda esta gente”, afirmou. E foi toda essa gente que inaugurou uma nova era no clube “azul e branco”, 42 anos depois.