Os 45 dias mais sérios de 2015

Sete semanas depois da eleição do Syriza, temos dúvidas sobre quase tudo. Não sabemos o que a Grécia quer de facto fazer; não temos uma imagem clara das suas finanças públicas; não sabemos até onde vão ceder gregos, alemães e parceiros europeus; não sabemos quem – nesta louca montanha russa – está a fazer mais bluff. Não sabemos aonde tudo isto nos vai levar.

Talvez saibamos pouco mais do que isto: Alex Tsipras tem razão quando diz que este não é um problema da Grécia, mas um problema da Europa.

Ontem até o desconcertante ministro grego da Defesa foi sensato: se a Grécia sair do euro, a primeira pergunta que os mercados vão fazer, antes mesmo de medirem o impacto da ruptura, é esta: qual é o próximo? Panos Kammenos ofereceu a resposta: Espanha e Itália, de certeza, e talvez a própria Alemanha logo a seguir. O efeito de dominó seria inexorável? Aqui já estamos no reino da especulação.

O reino das agendas é mais prosaico: faltam 45 dias para o fim das negociações entre Atenas e Bruxelas e nada avançou. A panela de pressão parecia estar prestes a rebentar esta semana. Os gregos foram os mais criativos. O ministro da Defesa propôs dar nacionalidade grega a jihadistas e enviá-los para a Alemanha, o ministro da Justiça propôs leiloar o Goethe Institute de Atenas e o ministro das Finanças exigiu um pedido formal de desculpas por uma declaração que Wolfgang Schäuble afinal não proferiu. Actos de desespero?

Nas últimas horas, Tsipras e Yanis Varoufakis tentaram desligar o lume e baixar a temperatura. Mostram-se optimistas e garantiram que o governo está disposto a adiar por uns meses algumas promessas eleitorais em nome de uma solução aceitável para todos. A panela ficou a tremer menos, mas a sopa está longe de estar pronta. Há dezenas de deadlines, uns atrás dos outros, para pagar e para receber. Um exemplo: as amortizações gregas ao FMI – 334 milhões foram pagos anteontem, 300 milhões têm de ser pagos na segunda-feira, outros 300 milhões na sexta, 420 milhões em Abril, 900 em Maio e 1,4 milhões em Junho. A 20 de Abril, o sentido é inverso: a Grécia espera receber a última tranche de resgate do trio que antes era chamado de troika: 7 mil milhões. Varoufakis, se o entendemos bem, disse que “temos dinheiro para pagar salários e pensões dos funcionários públicos. Para o resto, temos de ver”. A pressão para a Grécia acelerar as reformas é mais do que muita. E a crispação também. As relações bilaterais com a Alemanha atingiram um ponto de degradação que há muito não se via.

Tsipras diz que o eurogrupo é como uma camisola de lã: quando se começa a desfazer, ninguém consegue travar o processo. Não é verdade, mas a imagem fica. A camisola só se desfaz se todos estiverem distraídos. É preciso acção na Europa. Jean-Claude Juncker diz, e bem, que “há pessoas na União Europeia que ainda não compreenderam a gravidade da situação”. Juncker aborda a Grécia como uma questão de “perda irreparável do prestígio global da União Europeia”. O destino dos gregos está em parte nas suas mãos. Como está nas de Angela Merkel e Tsipras. Os três têm a palavra, a reputação e o legado histórico em jogo.

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