Dois anos de propostas para as Lajes

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Ao longo dos últimos dois anos, foram várias as hipóteses pensadas para compensar a ilha Terceira pelo impacto da redução da base militar norte-americana.

Treinos conjuntos das Marinhas
A proposta já vinha sendo levantada pelo lado português anos antes, mas ganhou maior intensidade depois de 2012. A ideia é aproveitar algumas das infra-estruturas neste momento sub-aproveitadas que permanecem no concelho da Praia da Vitória. Durante cerca de uma década e meia, a Base das Lajes teve uma componente marítima instalada no porto da Praia da Vitória. Foi desactivada nos anos 90, abrindo espaço para a instalação de um centro de treinos a ser utilizado pelas Marinhas portuguesa e norte-americana. Os treinos conjuntos permitiriam a sedeação permanente de um efectivo significante nas Lajes. Os EUA nunca se mostraram realmente interessados.

AFRICOM nos Açores
A proposta já vinha de trás, mas após 2012 ganhou outro peso, a ponto do congressista luso-descendente – apoiado por um grupo de 40 outros representantes – avançar com a proposta na Comissão das Forças Armadas em Washington. O projecto defendia o regresso do quartel-general do AFRICOM – comando militar das Forças Armadas norte-americanas destacadas para operar no continente africano – aos Estados Unidos da América, mas com a instalação de uma “base avançada e plataforma logística” na Base das Lajes, com “activos permanentes, incluindo activos aéreos, terrestres, operações especiais e logísticos” desse comando militar. “Zonas de actividade terrorista na África Ocidental podem ser atingidas a partir das Lajes em menos de cinco horas com poucas, senão qualquer preocupações de sobrevoos, e dez dos dezoito países africanos identificados nos Alertas de Viagem do Departamento de Estado podem ser alcançados em menos de seis horas”. O balde de água fria chegou em Janeiro, quando os EUA e Espanha confirmaram o início das negociações para tornar permanente a instalação dos cerca de 850 Marines da Força de Reacção Rápida para o continente africano em Morón de la Frontera, perto de Sevilha.

 A visita a Beja
Em 2013, uma delegação militar norte-americana aterrou em Portugal com a mira apontada a Beja. O desactivado aeroporto militar alentejano sinalizaram o interesse de transferir para Beja a Força de Reacção Rápida sedeada na base aérea espanhola de Morón. Os responsáveis norte-americanos não estariam satisfeitos com as condições em Espanha e estavam a equacionar alternativas. No MNE português, a proposta não recebeu entusiasmo, por se entender que jogava contra o interesse da manutenção de um efectivo nas Lajes, mas também porque  a manutenção dos marines em Morón como a sua mudança para Beja implicariam avultados investimentos na reconversão das instalações. O que significava que os norte-americanos não iriam tomar uma decisão nos próximos tempos. Estavam errados no Palácio das Necessidades…

ONU na Terceira
A possibilidade foi avançada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros num entrevista a um jornal açoriano. Ao Diário Insular, Rui Machete disse que há cerca de um ano que o Governo estava a explorar usos alternativos e não militares para as Lajes, dando como exemplo contactos com organizações humanitárias internacionais com vista à instalação de um "hub logístico" na ilha Terceira: "Além da procura de investimentos privados, norte-americanos ou de outra proveniência, o Governo sondou também as organizações internacionais humanitárias para aferir a possibilidade de aquelas montarem um hub logístico nas Lajes. Na sequência desses contactos, o Programa Alimentar Mundial enviou, no início de Julho passado, uma missão às Lajes.” Dessa sugestão não se voltou a ouvir falar.

Call centers e registo de aeronaves
Para sinalizar o empenho americano na relação com Portugal, a embaixada em Lisboa norte-americana organizou uma expedição de empresários para avaliar potenciais investimentos na ilha Terceira. Depois de alguns dias na região e em Lisboa, o grupo BENS (Business Executives for National Security) apresentou o seu relatório, separando as oportunidades de negócios de curto e longo prazo. Na primeira categoria, avançaram com a proposta da instalação de call centers (centros de atendimento) internacionais aproveitando as infra-estruturas da base e a fluência no Inglês de uma parte da população. Sugeriram também a abertura de data centers na ilha. Ao nível das oportunidades de longo prazo para a Terceira, foi aventada a questão do registo de aeronaves. Desde então o dossier não registou nenhuma novidade.

Novos C-130?
A “suspeita” regressou numa audição parlamentar na Comissão de Defesa. O socialista José Lello questionou o ministro da Defesa sobre a eventualidade dos EUA cederem a Portugal uma mão-cheia de aviões de transporte – modelo C-130J – como contrapartida pela decisão de racionalização nas Lajes. Aguiar-Branco optou por não responder. Mas o presidente do Governo Regional dos Açores já falara nessas “suspeitas”  - que garantiu “não querer acreditar” - depois de uma audiência com o Presidente da República a propósito do anúncio da redução de efectivos. Na altura, não quis aprofundar a questão e semanas depois, após um encontro com o primeiro-ministro, afirmou que Passos Coelho lhe havia assegurado que não haveria lugar a “contrapartidas militares” pela racionalização na base.

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