Milícia xiita reforça posições após horas de combates na capital do Iémen

Chegou a falar-se em golpe de Estado. Depois de confrontos junto ao palácio presidencial, e de um ataque à caravana do primeiro-ministro, foi decretado um cessar-fogo. Situação continuava confusa esta segunda-feira à noite.

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Milicianos hutis, perto do palácio presidencial Khaled Abdullah/Reuters

Foram os mais intensos combates em Sanaa desde que, em Setembro do ano passado, a milícia xiita Ansaruallah tomou o controlo de boa parte da capital do Iémen. Chegou a falar-se em golpe de Estado, esta segunda-feira. Ao fim de horas de tiroteio, foi decretado um cessar-fogo, mas pouco depois surgiu a notícia de cerco à residência do primeiro-ministro, cuja caravana automóvel tinha sido alvejada horas antes.

Ao princípio da noite era imprevisível a evolução dos acontecimentos. O vice-ministro da Saúde, Nasser Baum, disse à agência AFP que nos combates foram mortas pelo menos nove pessoas e que 67, entre elas civis, ficaram feridas.

Os combates mais intensos, com disparos de artiharia, começaram nas proximidades do palácio presidencial, no sector Sul da capital, onde não estaria o chefe de Estado, Abd-Rabuh Mansur Hadi, e alastraram depois a outras zonas da cidade.

A ministra da Informação, Nadia al-Sakkaf disse que o palácio foi atacado e falou em golpe de Estado. “Se o palácio presidencial é atacado […] é claro que é uma tentativa de golpe”, disse, citada pela Reuters.

Testemunhas contaram à televisão Al-Jazira que, junto ao palácio, se ouviram tiros de metralhadoras e explosões de morteiros. Habitantes de bairros próximos fugiram após o início dos combates.

Hakim al-Masmari, director do jornal Yemen Post , disse à estação televisiva que os combates foram mais intensos do que os ocorridos quando a milícia xiita tomou boa parte da cidade, em Setembro do ano passado.

Ataque ao primeiro-ministro

A caravana automóvel do primeiro-ministro, Khaled Bahah, foi alvejada após uma reunião com altos representantes dos milicianos xiitas também chamados hutis – disse a ministra Nadia al-Sakkaf. O chefe do Governo saiu ileso. Um responsável governamental referiu-se ao ataque como uma tentativa de assassínio.Horas depois, já noite, um porta-voz do Governo disse à AFP que a casa do primeiro-ministro estava cercada por elementos da milícia. 

A ministra al-Sakkaf anunciou logo de manhã que o Governo tinha perdido o controlo da televisão nacional e da agência noticiosa oficial, Saba, e chegou a dizer à Al-Jazira que poderia haver um “novo Iémen” até ao fim do dia. Horas depois, a agência citou o ministro do Interior, Jalal al-Roweishan, para anunciar o cessar-fogo.

Nadia al-Sakkaf sugeriu ainda o envolvimento de uma “terceira força” nos combates e afirmou que parte do Exército se mantinha fiel ao Presidente Abd-Rabuh Mansur Hadi mas que “alguns [homens armados] em uniforme” não estavam a obedecer aos superiores.  

Quando a trégua foi anunciada, após horas de confusão e incerteza, a milícia xiita, que já antes controlava alguns dos principais sectores e edifícios públicos, tinha reforçado posições. Os hutis reclamam também o controlo de uma colina estratégica junto ao palácio. O cessar-fogo foi anunciado pouco depois de a Liga Árabe ter apelado “a todas as forças políticas” para acabarem com a “infeliz escalada da violência”.

O regresso dos combates à capital do Iémen acontece dois dias depois do rapto, atribuído a milicianos xiitas, de Ahmed Awad ben Mubarak, chefe de gabinete do Presidente e um dos autores do projecto de nova Constituição. Mubarak, recordam as agências, supervisionou a redacção do projecto da lei fundamental e dirigiu o processo de diálogo nacional após a partida do antigo Presidente, Ali Abdallah Saleh, em Fevereiro de 2012, depois de meses de protestos violentos.

A milícia huti opõe-se ao projecto de Constituição que prevê um Iémen federal composto por seis regiões. Uma tal organização do país implicaria que ficasse sem acesso ao mar – uma das suas principais reivindicações desde que deixou o seu feudo na região montanhosa de Saada, no Norte, para conquistar largas parte do território, observa a AFP.

 

   





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