PS rejeita plataforma de diálogo com PSD antes das legislativas

Sociais-democratas pretendiam arrancar já com negociações sobre Segurança Social, Reforma do Estado e Natalidade. PS admitiu discutir até a TAP, fundos comunitários e transportes, mas só depois das eleições.

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Rui Gaudêncio

De um lado, o PS a pensar em “estratégia”. Do outro, o PSD a propor uma “proposta concreta”. O resultado foi a divergência sobre a “convergência” que os dois principais partidos portugueses consideram necessária para "bem do futuro do país”.

António Costa fez questão de comparecer na sede do PSD – apesar de já ter reunido com Passos Coelho - para a primeira reunião oficial, no seguimento da sua eleição como secretário-geral do PS.

Os sociais-democratas aproveitaram para lançar o desafio: criar uma “plataforma de diálogo permanente” que “fixasse uma agenda comum”, definindo “os objectivos e a estratégia subjacente ao futuro do país”. Um espaço que poderia ser alargado a outros partidos, explicou o porta-voz do partido Marco António Costa, depois de elencar os tópicos que o PSD pretendia discutir: Segurança Social, Reforma Eleitoral, Natalidade e Reforma do Estado.

A recusa do PS levou o dirigente social-democrata a acusar os socialistas de terem “medo de se comprometerem em questões concretas”. “O PS transformou-se num partido da política do abstracto”, rematou.

O encontro entre PS e PSD durou cerca de uma hora. A delegação do PS, chefiada por António Costa, incluiu também o presidente deste partido, Carlos César, o líder parlamentar, Ferro Rodrigues, e o secretário nacional Porfírio Silva. Pelo PSD, para além de Marco António Costa, estiveram presentes o líder parlamentar, Luís Montenegro, e o secretário-geral, José Matos Rosa.

Costa saíra da sede do PS a falar da importância de que os partidos, “para além do governo do dia-a-dia”, fossem capazes de se entender sobre “uma visão comum" que seja "estratégica para o país”.

Depois de ter tido conhecimento das declarações do dirigente social-democrata, Costa precisou que a possibilidade de entendimentos era para depois das legislativas. "Este ano os portugueses vão ter a oportunidade de poder votar e de escolher quais as soluções de Governo. O PSD não deve querer subtrair à liberdade dos portugueses a escolha que os portugueses têm a fazer sobre o caminho a seguir - e não contarão com o PS para prosseguir as políticas que têm vindo a ser concretizadas", respondeu o líder socialista.

Mas não deixou de reconhecer que o actual “nível de incomunicabilidade” entre os principais partidos era “muito negativo” para o país.

"Quanto ao futuro do país, aí é importante que haja plataformas alargadas de convergência. Mas há uma opção de fundo que tem de ser feita no sentido de se saber se acreditamos que o futuro de crescimento do país ao nível da competitividade passa por uma estratégia de empobrecimento brutal, tal como o PSD prosseguiu ao longo dos últimos anos, ou se, pelo contrário, passa pelo investimento nos factores de qualificação para reforçar a competitividade do país", apontou António Costa.

Durante o encontro, os socialistas deram a entender que esse “diálogo” seria possível  no futuro até mesmo sobre outras matérias como o futuro da TAP, os fundos comunitários e a política de transportes. Mas rejeitando a ideia de limitar a “procura de acordos a situações de natureza conjuntural”, como Costa interpretou da mensagem de fim-de-ano do Presidente da República.

Cavaco Silva voltaria a ser citado pelo líder do PS para criticar o apelo a um entendimento limitado aos principais partidos. "O PS recusa o conceito de arco da governação, como se, por direito divino, só três partidos tivessem direito a ser partidos de Governo e que os portugueses estavam impedidos de escolher quem os governa. Em democracia todos os partidos têm a mesma legitimidade democrática, todos os partidos contam e os portugueses é que decidem como se formam as maiorias. O PS deseja ter maioria, mas fala com todas as forças políticas", declarou o líder socialista, à saída da sede do BE.

E, seguindo essa lógica, aproveitou para recordar que "entre o PS e o Bloco de Esquerda houve pontos de vista muito diversos, mas também houve matérias sobre as quais houve convergências".

Do lado do BE, o discurso não mudou. A coordenadora Catarina Martins preferiu registar “que no PS há indefinição sobre temas centrais" como  os rendimentos dos trabalhadores e pensionistas, sobre o futuro da TAP, ou os alinhamentos em matéria europeia (Tratado Orçamental e restruturação da dívida). Esses “silêncios”, deixavam o BE preocupado devido aos exemplos do passado. "Significaram que governos após as eleições aumentaram impostos, cortaram salários e privatizaram mais", rematou.

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