Tony Abbott promete rever procedimentos de avaliação dos riscos depois de sequestro em Sydney

Australianos prestam homenagem às duas vítimas do sequestro do café Lindt, e recusam associar a tragédia a religião.

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População de Sydney prestou homenagem às vítimas do sequestro REUTERS/David Gray

O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, prestou homenagem às vítimas do sequestro de um café no centro de Sydney e prometeu reparar o sistema de avaliação de riscos e vigilância de suspeitos, que permitiu que o responsável pelo incidente, um refugiado iraniano que se autoproclamava xeque e se encontrava em liberdade condicional, acusado de vários crimes, não tivesse sido classificado como uma ameaça à segurança.

Numa conferência de imprensa, horas depois do fim do cerco de 17 horas ao café Lindt de Sydney, o primeiro-ministro questionou a razão pela qual as agências estaduais e federais deixaram sem vigilância Man Haron Monis, “um indivíduo com uma história tão longa e problemática [que] não estava em nenhuma lista de suspeitos [de terrorismo] e podia andar à solta”.

No ano passado, Monis foi condenado a 300 horas de serviço comunitário por ter enviado cartas “grosseiramente ofensivas” a familiares de soldados australianos mortos no Afeganistão. Também foi condenado por cumplicidade no homicídio da sua ex-mulher, pela nova companheira. Já este ano, foi acusado de assédio e ofensas sexuais a mais de 40 mulheres – a Justiça australiana concedeu-lhe liberdade condicional até o processo chegar ao fim.

A pergunta tem sido repetida pela imprensa e a opinião pública do país, que, segundo descreve esta terça-feira a Associated Press, passou do choque e horror à fúria e à confusão  – “Todos nós nos sentimos afrontados e ofendidos por este indivíduo poder andar livremente pela rua”, resumiu o chefe do governo de Nova Gales do Sul, Mike Baird. “Seguramente, temos muito para aprender com o que se passou”, observou.

A incompreensão era patente entre as centenas de pessoas que se deslocaram até Martin Place para depositar flores no passeio, que em poucas horas se transformou num denso tapete colorido em homenagem às duas vítimas mortais do sequestro: Katrina Dawson, uma advogada de 38 anos e mãe de três filhos, e Tori Johnson, o gerente do café Lindt, que tinha 34 anos. Todos se questionavam por que Monis, morto pela polícia, não fora considerado uma ameaça, ou como tinha conseguido comprar uma arma num país com uma das mais apertadas legislações do mundo.

Milhares de pessoas acompanharam uma cerimónia memorial na catedral de Sydney. E se muitos se referiram a um temor de ataque que nunca tinham sentido antes, a esmagadora maioria dos australianos manifestaram a sua solidariedade com a comunidade muçulmana do país, recusando fazer uma associação entre a religião e o acontecimento. A distinção foi também sublinhada por Tony Abbott, que descreveu o sequestrador como um indivíduo “mentalmente instável” e não como um fanático religioso. Por isso, acrescentou, seria difícil evitar o incidente, mesmo se o nome de Monis estivesse numa lista de suspeitos.

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