Maioria quer conquistar eleitorado do centro

PSD e CDS mantêm colagem de Costa a Sócrates.

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O vice-presidente da bancada da PSD, Carlos Abreu Amorim, diz que assinou milhares de cartas Paulo Ricca

A viragem à esquerda do PS de António Costa é vista pelo PSD e pelo CDS como uma oportunidade para conquistar o eleitorado mais ao centro. Esta é uma das linhas da estratégia da maioria de combate político ao PS que saiu do XX Congresso socialista do passado fim-de-semana.

A recusa de António Costa em fazer entendimentos à direita dá margem aos partidos que apoiam o Governo para sublinharem a posição. “Isso deve fazer reflectir os portugueses”, defende Carlos Abreu Amorim, vice-presidente da bancada do PSD. Na mesma moeda “a retórica preferencial pela esquerda da esquerda do PS devia fazer reflectir os socialistas mais moderados”, acrescenta o deputado.

A posição assumida por António Costa permite mesmo, segundo uma fonte social-democrata, que os partidos da maioria abandonem os constantes apelos ao consenso com o PS. “Para mim esse assunto morreu”, diz a mesma fonte do PSD, engrossando as vozes internas do partido defensoras do fim deste “namoro” ao PS. Um outro dirigente social-democrata, Carlos Carreiras, já tinha defendido publicamente, antes mesmo do último congresso do PS, que o PSD deveria abandonar a ideia de pedir acordos ou entendimentos aos socialistas.

Se o secretário-geral do PS faz uma ruptura com os partidos da direita, então PSD e CDS também devem marcar a sua diferença. “Para mim a estratégia tem de ser a mesma. Herdámos um caos, dissemos que íamos passar por dificuldades, e agora as coisas estão a melhorar”, diz a mesma fonte do PSD que resume a estratégia social-democrata numa frase: “Somos mais confiáveis do que o socratismo por interposta pessoa”.

Os democratas-cristãos também afirmam ver uma oportunidade no discurso de António Costa. “Devemos ocupar o centro”, defende Nuno Melo, vice-presidente do CDS, estranhando que seja pedida uma maioria absoluta à “extrema-esquerda”. Para o líder da bancada centrista, Nuno Magalhães, a estratégia de crescer à esquerda “vai custar caro” ao novo secretário-geral socialista. “Há matérias europeias, militares que precisam de entendimento à direita”, lembra. Por outro lado, acrescenta, a posição permite aos partidos da maioria encostar o PS ao Bloco e ao PCP. E com isso assustar eleitorado ao centro. Carlos Abreu Amorim lembra que há outras matérias que precisam de entendimento entre os dois partidos como a reforma do sistema político e as propostas de combate à corrupção.

O CDS tem-se abstido de comentar o caso judicial de José Sócrates e isso mantém-se. Mas Nuno Melo faz a distinção entre o processo na justiça e a herança política. E esta parece que não vai ser poupada. “O PS assumiu de corpo inteiro a herança de José Sócrates, quer através de António Costa na apresentação da sua moção quer Ferro Rodrigues [líder parlamentar] num debate no Parlamento”, sublinha o dirigente centrista. Lembrando as declarações de António Costa quando afirmou que, no PS não há a “má prática estalinista” de apagar pessoas das fotografias, Nuno Melo mantém a estratégia de colagem da actual direcção à liderança do ex-primeiro-ministro: “Nem podia apagar Sócrates da fotografia. Tem de estar intocada porque se não também tinha de apagar Costa”.  

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