Moçambique, a prova decisiva do poder

As eleições desta quarta-feira podem ditar uma mudança política histórica ou pelo menos o seu início.

Quando se reacenderam os sinais de guerra entre a Frelimo e a Renamo, ressuscitando o fantasma das quase duas décadas de conflito armado que se sucederam à independência, o mundo temeu pelo futuro de Moçambique. Não era já possível, tantos anos passados, o regresso a tão terrível horizonte sem provocar, no mínimo, um generalizado espanto.

Mas esse retorno à guerra de antes, embora com menor violência e muito menos vítimas, deveu-se ao mesmo sintoma que poderá marcar as eleições que agora se disputam no país: uma continuada desconfiança. No poder desde 1976, a Frelimo confunde-se há muito com o Estado, mantendo, mesmo com eleições, uma regência de partido único.

Se em países africanos como Cabo Verde já foi estabelecida uma saudável alternância, pela via do voto, em Moçambique essa solução tem sido adiada. Não só pelo apego da Frelimo ao poder, mantido com o controlo continuado do aparelho de Estado, mas também pela fraqueza ou menor aceitação popular das oposições. Neste campo, as actuais eleições podem ditar uma mudança política histórica ou pelo menos o seu início.

Terminado, por acordo recente, o conflito reacendido entre a Frelimo e a Renamo, a Presidência do país é disputada entre três candidatos principais: Filipe Nyusi, pela Frelimo (Guebuza já não pode candidatar-se, mas o partido escolheu um seu antigo ministro); Afonso Dhlakama, pela Renamo; e Daviz Simango, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM). E, pela primeira vez, começa a falar-se na possibilidade de uma segunda volta – ou seja, a Frelimo pode não ter, desta vez, até pela erosão sofrida durante o mandato de Guebuza, a vitória assegurada sem uma segunda medição de forças com os seus oponentes. Mesmo ignorando o triunfalismo delirante de Dhlakama (que diz que vai “limpar” as eleições à primeira volta), isso já será uma vitória da democracia em Moçambique.

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