Marina Silva com luz verde dos aliados para apoiar Aécio Neves

A candidata derrotada na primeira volta das presidenciais brasileiras anuncia esta quinta-feira em que vai votar na ronda definitiva.

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Marina Silva prometeu quebrar o silência esta quinta-feira AFP/Miguel Schincariol

Marina Silva, que está fiadora de 22 milhões de votos depositados nas eleições brasileiras, prometeu anunciar esta quinta-feira a sua posição relativamente à segunda volta da corrida presidencial: o apoio formal e institucional à candidatura do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), ou a neutralidade com a indicação de preferência pessoal por Aécio Neves.

O apoio à Presidente e candidata à reeleição em nome do Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff, está totalmente fora de questão para Marina e os seus apoiantes – tanto os do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que montou a coligação Unidos pelo Brasil, como os da rede Sustentabilidade, o movimento político criado por Marina Silva. “Não temos síndrome de Estocolmo, não vamos apaixonar-nos por quem tentou sequestrar a nossa honra e dignidade na campanha”, desabafou Beto Albuquerque, o candidato a vice-presidente na chapa de Marina.

O portal iG escrevia ontem que a Rede já endossou a responsabilidade pela decisão à fundadora, dando luz verde a um eventual “apoio institucional” ao homem do PSDB. A rejeição de Dilma ficou patente nas declarações de Walter Feldman, coordenador-geral da campanha presidencial de Marina. “A decisão da Rede é pela não continuidade do actual Governo. E que é preciso uma mudança, mas uma mudança qualificada”, disse, citado pela Folha de São Paulo. O mesmo responsável entende que, ao contrário do que sucedeu em 2010, quando Marina "libertou" o voto dos seus apoiantes na segunda volta, a neutralidade não é uma posição desejável, "por deixar em aberto que o PT também pode ser opção".

A cúpula do PSB reunia na quarta-feira em Brasília para concertar a posição oficial do partido (outras siglas da coligação já avançaram a sua adesão à campanha de Aécio). Roberto Amaral, presidente interino dos socialistas depois da morte de Eduardo Campos, defende a aproximação a Dilma, tal como alguns candidatos do partido nos estados que na segunda volta terão por adversários concorrentes do PSDB. Mas uma facção maior está disposta a virar para o lado dos tucanos (o animal que simboliza o PSDB).

Apesar de existirem resistências à aliança no PSB e na Rede, Marina parece já ter decidido manifestar-se contra Dilma e a favor de Aécio, embora essa opção esteja a ser apresentada pela imprensa brasileira como “um sacrifício”. O jornal Estado de São Paulo dava conta de uma conversa entre a ambientalista e Renata Campos, a viúva de Eduardo Campos (e que, enquanto representante da família, também está em negociações com emissários tucanos do estado de Pernambuco), em que esta dizia sentir-se “entre o caminho da cruz e o inferno”.

A dificuldade para Marina, conforme assinalavam vários comentadores políticos, é montar uma aliança com Aécio Neves sem trair o projecto de “terceira via” para romper a velha polarização PT/PSDB, sem entrar em contradição com o seu discurso durante a campanha e sem queimar a sua aposta numa “nova política”. Os seus porta-vozes fizeram saber que Marina tinha imposto condições muito claras e concretas, e fazia depender o seu apoio da incorporação das suas ideias em temas como o meio ambiente, a educação, saúde ou a reforma política, no programa de governo do PSDB.  

Académicos e comentadores entendem que o previsível endosso da candidatura de Aécio Neves por Marina terá um efeito positivo que favorece a campanha tucana, mas advertem que a repercussão em termos de votos não está garantida à partida.

Segundo os cálculos de Neale El-Dash, director do site Polling Data, o pequeno grupo de indecisos, descritos como eleitores que viram o seu candidato derrotado e não sabem em quem votar na segunda volta, corresponderá a cerca de 6% do total. Aquele especialista tipifica os “órfãos” de Marina como moradores no Sudeste e Sul do país, com idade entre os 24 e os 44 anos e rendimentos entre dois e cinco salários mínimos (classe média). Correspondem, em traços gerais, ao perfil dos manifestantes de rua do Verão de 2013: cidadãos que viram a sua vida melhorar na última década, e agora reclamam mais serviços públicos. Estão desencantados com a política e dizem que os candidatos são todos iguais: não gostam de Dilma Rousseff e acham o seu Governo péssimo, mas pensam que Aécio só governará para os ricos e as elites.

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