Tudo diferente na mesma

O Brasil parece ter voltado ao normal; como há quatro anos, a candidata do Partido dos Trabalhadores enfrentará um candidato do Partido da Social Democracia Brasileira e a terceira candidata, Marina Silva, tem o voto de desempate.

O resultado da primeira volta parece tirado a papel químico do que se verificou em 2010: Dilma Rousseff (PT) acima dos quarenta por cento, Aécio Neves (PSDB) com 33,5%, só um ponto acima do que teve o candidato do seu partido, José Serra, em 2010. E Marina Silva com 21% face aos 19% de 2010.

Depois de muito drama, de manifestações nas ruas, da morte de um candidato, de sondagens em montanha russa, de profecias hiperbólicas dos comentadores — tudo na mesma. É um pouco como no Campeonato Mundial de futebol, quando a Alemanha ganhou ao Brasil por 7 a 1. Houve previsões de um novo “maracanaço”, tumultos, suicídios em massa, e no dia seguinte o máximo que os brasileiros enfrentaram foi o trânsito para ir trabalhar, como sempre.

A minha previsão é que vamos ter mais duas semanas disto. A imprensa, lá como cá, vai traçar perfis de Aécio Neves e fazer previsões de mudança e, no fim, Dilma Rousseff vai ganhar.

E, no entanto: se a ordem das eleições estivesse trocada, Aécio Neves já seria presidente da república e estaria a disputar agora a sua reeleição. Eu explico. Há quatro anos, Lula abandonava o Palácio do Planalto com a popularidade pessoal em alta, mas o seu partido, o PT, estava muito desacreditado pelo exercício do poder, pelos escândalos de corrupção, por uma certa arrogância na ação governativa, e até na atitude perante a sociedade civil brasileira, que lhe foi dada pela habituação à soberba. Muitos brasileiros começaram a perguntar-se quando seria o momento para dar ao PT uma cura de humildade, chutando-o fora da Presidência da República. E nessa época havia um jovem governador de Minas Gerais, também muitíssimo popular em todos os setores da população e campos ideológicos, que poderia chegar à vitória no hiato pós-Lula. Era Aécio Neves. A sua ação em Minas Gerais era imaginativa no plano cultural, generosa no plano social, expansionista no plano económico, e tolerante no plano político. O prefeito de Belo Horizonte, a capital do estado, era do PT e as relações entre ambos eram boas. Aécio falava frequentemente em estabelecer pontes entre o seu PSDB, de centro-esquerda, e os “irmãos rivais” do PT, e era visto como membro da ala esquerda do seu partido.

Se tivesse sido ele então o escolhido a enfrentar uma Dilma Rousseff tida como burocrática e com pouco carisma, Aécio teria podido ganhar. Mas o PSDB escolheu uma velha figura do partido, José Serra, conotada com as políticas de “terceira via” neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, e Dilma Rousseff foi eleita pelos brasileiros para continuar com as políticas sociais de Lula, que Aécio inteligentemente aproveitara em Minas Gerais.

Dilma Rousseff cumpriu com a sua missão, e foi até, ao contrário de Lula, mais intolerante com a corrupção. Hoje é uma presidente com experiência, uma “administradora do Brasil”. Os brasileiros continuam a ansiar por dar ao PT uma cura de humildade, mas a minha aposta é que não será este ano, mesmo que Marina Silva explicite o seu apoio ao candidato do PSDB. Se eu não estiver errado, Aécio Neves perdeu a vez.

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