Rebeldes sírios detêm militares da força da ONU nos Montes Golã

Duas derrotas para as forças de Assad em dois extremos da Síria. Mais de 150 militares do exército sírio terão sido executados pelo Estado Islâmico.

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Militar da força de monitorização da ONU nos Montes Golã JACK GUEZ/AFP

De um lado, a sudoeste, nos Montes Golã, 43 elementos de uma força de manutenção de paz da ONU foram detidos por um grupo armado não identificado, que inclui combatentes da frente Al-Nursa, ligada à Al-Qaeda, e outros 81 estavam encurralados no local. Tudo aconteceu durante combates entre as forças de Bashar al-Assad e os rebeldes.

Do outro lado, a nordeste, jihadistas do Estado Islâmico (EI) envolveram-se num dos mais violentos combates com militares do regime de Bashar al-Assad pelo controlo de uma base da força aérea perto de Raqqa, e mais de cem soldados foram executados. 

Não era claro exactamente o que tinha acontecido na zona dos Montes Golã, mas segundo a ONU, os militares raptados são das ilhas Fiji e os que estão encurralados são filipinos. As Filipinas tinham dito que iriam retirar os seus 331 militares da força de manutenção de paz na fronteira entre Israel e a Síria, que existe no local desde 1974, sete anos depois de Israel conquistar os Montes Golã.

No ano passado, 21 filipinos desta missão foram raptos por rebeldes sírios mas foram libertados passados poucos dias. Já houve militares feridos (dois austríacos) e já dois países - Japão e Croácia - decidiram retirar as suas tropas.

Na véspera do anúncio do rapto, os rebeldes tinham tomado o posto fronteiriço, deixando o local sem qualquer soldados de Assad, e uma bala perdida deixou ferido um militar israelita.

Israel tinha já reforçado a barreira nos Montes Golã no início de 2013, temendo infiltrações e mais efeitos da guerra na Síria no seu território, até agora sobretudo fogo perdido.

Os islamistas dizem que Israel não tem de se preocupar porque a sua luta é contra o regime de Assad. Mas os militares não descansam com estas garantias. “Somos os próximos na mira”, dizia recentemente um comandante do exército do Estado hebraico.

Noutro extremo, uma derrota ainda mais pesada para Assad foi a tomada da base aérea de Tabqa pelos combatentes do Estado Islâmico. Imagens publicadas online cuja autenticidade não pode ser verificada mostravam um grupo de homens vestidos de negro de cara coberta a matar a tiro sete homens ajoelhados. O grupo diz ainda ter dezenas de prisioneiros - fotos mostravam uma fila de homens, de roupa interior, a serem levados pelo deserto.

Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, grupo ligado à oposição moderada a Bashar al-Assad, foram executados 160 soldados leais ao regime depois da tomada da base aérea, que era já o ultimo bastião militar na região. Dos 1400 soldados que a defendiam em combates que duraram cinco dias e são descritos como um dos mais duros embates entre os jihadistas e as tropas de Assad, o Observatório estima que 200 soldados morreram nos combates, 700 conseguiram fugir para sectores controlados pelo regime, e entre os 500 que restaram muitos foram capturados e outros executados. O EI diz que executou 200. Por outro lado, terão morrido 346 jihadistas, diz ainda o Observatório.

Os meios de comunicação oficiais da Síria fizeram o seu habitual trabalho ao contar a história como sendo “uma evacuação com sucesso” da base aérea dizendo que os militares estavam a “reagrupar-se”. Mas o público já não é enganado, e online, um comentador queixava-se da falta de cobertura noticiosa da agência oficial Sana: “Milhares de pessoas querem saber o destino dos seus filhos, e a única fonte é o Estado Islâmico.”

Na frente diplomática - discute-se se é possível fazer uma intervenção contra o EI e que tipo de intervenção -, o Presidente francês, François Hollande, pediu à comunidade internacional “uma resposta humanitária e militar” contra estes combatentes. Em Washington discutiam-se possíveis ataques aéreos contra o EI, mas esbarravam-se em dificuldades: falta de informação e falta de interlocutor. Em todos os outros países em que os EUA têm atacado grupos islamistas contam com a cooperação dos governos locais, mas os Washington não quer cooperar com Assad nem beneficiar o seu regime.

Responsáveis americanos traçam um quadro negro em que admitem não saber quase nada sobre o grupo, que continua a espalhar o terror (nas partes da Síria e Iraque que controlam as execuções públicas tornaram-se comuns) - nem sequer há acordo sobre o nível de ameaça aos EUA que este representa. 
 

   

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