Pequenos viticultores do Douro sem dinheiro para todos tratamentos à vinha

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Pequenos viticultores do Douro queixam-se de falta de dinheiro para fazerem todos os tratamentos necessários na vinha e combater as doenças de oídio e míldio que este ano vão originar alguma quebra na produção.

Berta Santos, dirigente da Associação dos Vitivinicultores Independentes do Douro (Avidouro), com sede na Régua, afirmou nesta quinta-feira à agência Lusa que pequenos e médios produtores se queixam de quebras nos rendimentos, uma situação que se arrasta há vários anos.

Por causa disso, os agricultores têm vindo também a reduzir, de ano para ano, o número de tratamentos nas vinhas, devido ao elevado custo dos mesmos.

Só que, segundo a responsável, o problema agravou-se agora devido ao verão atípico, com muita chuva e humidades que deram origem ao oídio e míldio, que afectaram algumas regiões do Douro e obrigaram, em alguns casos, a duplicar o número de tratamentos necessários para travar estas doenças.

“Os agricultores estão completamente descapitalizados e não conseguem fazer os tratamentos necessários à vinha, logo há uma menor produção e menor qualidade e, por isso, esta é de facto uma situação que tem que ser travada”, salientou a dirigente.

Manuel Figueiredo, viticultor em Folgosa do Douro, Armamar, disse que cada tratamento que tem que fazer na sua vinha custa “200 euros” e que, por isso, não pode fazer o número de pulverizações que eram necessárias.

“Era caro e preferi perder algumas uvas do que estar a comprar os produtos. Ao preço que nos estão a pagar o vinho, se perder uma pipa ou duas compensa não o tratar”, salientou.

Este produtor referiu que o oídio este ano “atacou forte e feio”. “Consegue ser um vírus pior do que sei lá o quê, onde cai destrói tudo”, frisou.

Por causa do ataque do oídio e de algum desavinho, um acidente fisiológico em que não ocorre a transformação das flores em fruto, Manuel Figueiredo disse que espera uma quebra de produção na ordem dos 30%. Em 2013, este produtor colheu cerca de 30 pipas de vinho.

Abraão Santos olha desalentado para as suas uvas em Alvações do Corgo, Santa Marta de Penaguião.

“Têm um ataque de míldio e de oídio intenso este ano que só peço que elas se aguentem até à vindima. Como dizem os agricultores mais velhos este foi um ano manhoso”, afirmou à agência Lusa.

Segundo este viticultor, os custos com um tratamento, entre os produtos e mão-de-obra, rondam os 120 a 150 euros por hectare de vinha mecanizada. Nas vinhas antigas, onde não entram os tractores, os valores podem ser maiores.

“Para isto correr bem este ano tínhamos que ter feito para aí 10 tratamentos. Eu fiz seis e mesmo assim tenho míldio”, salientou.

A vinha é uma “paixão” para Abraão Santos e, por isso, diz que vai ganhando noutros sítios para investir aqui. “Este ano não vamos ter lucros”, lamentou.

A acrescentar ao problema das doenças, este produtor referiu que nasceram também menos uvas e, para além disso, ainda se verificou o desavinho em alguns casos porque as condições na altura da floração foram más, devido à elevada precipitação verificada em maio.

Por tudo isto, Abraão Santos prevê uma quebra na produção na ordem dos 20 a 30%. “Ao menos, não nos baixem os preços do vinho este ano”, sublinhou.

 

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