Bombas ou ajuda humanitária? EUA ponderam acção no Iraque

Conselho de Segurança da ONU apela à comunidade internacional para apoiar o Governo de Bagdad e manifesta-se "escandalizado" com perseguição a minorias religiosas.

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Combatentes do grupo radical Estado Islâmico hasteiam a sua bandeira negra num checkpoint do Curdistão Reuters

Os Estados Unidos estão a pesar alternativas no Iraque para proteger civis ameaçados pelo grupo radical Estado Islâmico (EI) depois do avanço deste sobre cidades de maioria cristã. E o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) apelou à comunidade internacional para apoiar o Governo de Bagdad, manifestando-se "escandalizado" com perseguição a minorias religiosas.

Já depois de o secretário-geral Ban Ki-moon ter dito que estava “profundamente horrorizado” com a situação, os 15 membros do Conselho de Segurança fizeram uma declaração unânime, mostrando-se "escandalizados" com a perseguição a centenas de milhares de cristãos e yazidis. 

"Todas as partes, e isso inclui o EI e os grupos armados a ele ligados, devem respeitar as leis humanitárias internacionais, incluindo a obrigação de proteger os civis", acrescenta a mesma declaração.

A sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU aconteceu já depois de o Presidente francês, François Hollande, ter dito estar pronto a “apoiar os curdos envolvidos no combate” contra os militantes islamistas e de ter surigo notícias de que aviões militares norte-americanos já tinham lançado ataques aéreos no Iraque para proteger a população em fuga. Pouco depois, o porta-voz do Pentágono John Kirby garantia que esta notícia era “completamente falsa”. 

O New York Times terá baseado a sua notícia em combatentes curdos. Havia relatos de explosões atrás das linhas dos combatentes do Estado Islâmico vindas de aviões não identificados. Mas o Pentágono foi categórico: “Não se tomou essa acção”, garantiu Kirby.

As notícias de Washington davam conta de uma crescente preocupação na Casa Branca, com o reconhecimento de que a situação está prestes a transformar-se numa “catástrofe humanitária”. Mas o porta-voz Josh Earnest não confirmou nem desmentiu que os Estados Unidos estão a considerar ataques aéreos para proteger as minorias religiosas - cristãos e yazidi - em fuga. No Los Angeles Times, um responsável explicava a relutância norte-americana de voltar a intervir militarmente no Iraque e dizia que seria mais provável que aviões deitassem não bombas mas sim toneladas de ajuda humanitária.

Combatentes curdos tentavam concentrar-se na defesa da cidade de Erbil. Jornalistas descreviam um ambiente de desafio mas também de temor - os combatentes curdos cerravam fileiras mas as suas antigas armas soviéticas não têm capacidade para enfrentar as modernas armas americanas de que os combatentes do EI se conseguiram apoderar no Iraque. Um comandante peshmerga (paramilitar curdo) dizia: “Se os EUA querem ajudar é melhor fazê-lo já”.

No terreno, há quem fale de um genocídio iminente.

O mais recente êxodo ocorreu na província de Nínive, situada no Norte do Iraque, entre Mossul e a região autónoma curda. Habitantes contaram à Reuters que os guerrilheiros entraram durante a noite nas cidades de Tal Kaif, Al-Kwair e Qaraqosh, esta última a maior cidade cristã do Iraque, onde até há pouco tempo viviam cerca de 50 mil pessoas. A estes juntaram-se nas últimas semanas milhares de cristãos fugidos de Mossul, capital de Nínive e segunda maior cidade iraquiana, tomada em Junho pelos jihadistas – no final do mês passado, os que ali restavam receberam ordens para partir, converter-se ou pagar um imposto.

Prevendo o mesmo destino, a população de Qaraqosh não esperou pela chegada dos extremistas. A delegação iraquiana da organização francesa Fraternité contou através do Facebook que a cidade se esvaziou depois de o comandante dos peshmerga que controlavam a cidade, terem informado o arcebispo que iam abandonar os seus postos.

O mesmo tinha acontecido domingo passado em Sinjar, cidade yazidi (minoria curda, seguidora de um culto pré-islâmico) no Noroeste da província de Nínive, que o Estado Islâmico capturou depois de os peshmerga terem ficado sem munições e sido obrigados a retirar.

“O Governo, como as autoridades curdas são incapazes de defender o nosso povo. É preciso que trabalhem em conjunto, com o apoio internacional e equipamento militar moderno” para derrotar os extremistas, afirmou o patriarca, pedindo às Nações Unidas e à União Europeia que vão em auxílio dos que estão em fuga. “Espero que não seja muito tarde para evitar um genocídio”, afirmou Louis Sako.

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