Rui Moreira considera que Rui Rio tem condições para voltar a servir a causa pública

Câmara do Porto agraciou mais de 20 personalidades e instituições da cidade, algumas a título póstumo, mas houve quem recusasse a condecoração em solidariedade para com Pinto da Costa.

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O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, elogiou esta quarta-feira a “forma competente, corajosa e recta” como o seu antecessor no cargo se entregou à causa pública e declarou que Rui Rio poderá servir novamente a causa pública “noutras circunstâncias e tempos”.

Um dia depois de Rui Rio ter admitido em entrevista à Rádio Renascença a sua disponibilidade para se candidatar a qualquer outro cargo político caso haja no país uma espécie de vaga de fundo, foi Rui Moreira quem o lançou para outros voos políticos.

“A homenagem que lhe prestamos (…) não é nenhuma formalidade que nos impomos. Não é um acto de rotina ou de protocolo; não é um acto banal. É outrossim, o mínimo reconhecimento que lhe podemos fazer pela forma competente, corajosa e recta como se entregou de alma e coração à causa pública”, declarou o presidente da Câmara do Porto na intervenção que proferiu pouco depois de ter agraciado o seu antecessor com a medalha de honra da cidade grau ouro. Trata-se da mais alta condecoração do município reservada a quem tenha prestado serviços de excepcional relevância.

Para além do “enorme sentido de dever para com a cidade”, Rui Moreira evidenciou que a homenagem ao ex-autarca do PSD é “o reconhecimento do excepcional mérito de alguém que, tendo servido a causa pública, decerto poderá vir a servir noutras circunstâncias e tempos”.

Para além de Rui Rio, a autarquia  homenageou mais 24 personalidades, algumas das quais a título póstumo como Vasco Graça Moura, um nome muito aplaudido no momento em que o seu filho recebeu a comenda, o mesmo acontecendo com Diogo Vasconcelos, Alcino Soutinho, João Lopes Porto e Hernâni Gonçalves, personalidades que a cidade conhece bem.

Miguel Guedes, António Ferreira, Raquel Seruca, Sollari Allegro, Ilídio Palheta, António Marquez Filipe, Maria Amélia Canossa, José Marques dos Santos, Avelino Gonçalves, João Alves Dias, Frei Bernardo Domingues, João Trigo, Manuel Teixeira dos Santos, Gomes de Pinho, bem como os comandantes António Leitão da Silva e Manuel Rebelo de Carvalho e ainda a UPTEC (Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto), a cooperativa livreira UNICEPE e a Irmandade dos Clérigos foram as outras personalidades e instituições agraciadas com medalhas municipais sob proposta de Rui Moreira.

Mas houve quem recusasse a homenagem. O presidente da Beneficência Familiar, António dos Santos Reis, recusou receber a medalha de mérito grau prata em solidariedade com o presidente do FC do Porto, Pinto da Costa, considerando “descortês e desconfortável a confraternização" com o ex-autarca Rui Rio.

“Partilhando eu idêntica posição do presidente do FC Porto em relação a Rui Rio […], considero igualmente descortês e desconfortável a minha confraternização na minha cerimónia com Rui Rio”, explicou António dos Santos Reis, que foi o primeiro presidente eleito da junta de freguesia de Ramalde, numa carta a que a Lusa teve acesso.

Na carta “entregue em mãos” ao presidente da autarquia, Rui Moreira, na segunda-feira, António Reis afirma estar em causa o esclarecimento dado  “em reunião do executivo”, a propósito “da não-inclusão de Pinto da Costa entre as personalidades que receberão medalha municipal”, de que “não seria cortês homenagear Pinto da Costa e Rui Rio na mesma cerimónia”.

“Os altos valores, princípios morais e ideológicos que me são inatos não me permitem aceitá-la […] É que, para além do mais, Jorge Nuno Pinto da Costa e o signatário desta [carta] presidem a duas das mais prestigiadas e centenárias instituições da cidade do Porto”, escreve o também presidente da Cooperativa de Ramalde. O ex-autarca manifesta ainda a “mágoa” pelo “Grau Prata” do galardão que a Câmara do Porto aprovou atribuir-lhe na reunião do executivo de 17 de Junho.

Com Rui Moreira na presidência da Câmara do Porto, a sessão de entrega das medalhas municipais deixou de ser em Abril como acontecia com Rui Rio e passou a estar associada “ao desembarque das forças libertadoras de D. Pedro”, ocorrido a 9 de Julho de 1832.

Na sessão solene de imposição de medalhas da cidade, que juntou nos jardins da Casa do Roseiral mais de 400 pessoas, Rui Moreira aludiu às forças leais a D. Pedro que tomaram a cidade durante as guerras liberais e que viriam a ser sujeitas depois a “um longo, cruel e doloroso cerco pelas tropas miguelistas”, que ficou conhecido como “O Cerco do Porto” para dizer que “D. Pedro e o povo do Porto resistiram e não cederam”.

“O Porto é liberal, exige o que é seu ou aquilo que lhe é devido. Não quer mais, mas não aceita menos. O Porto acredita num sentido de honra de palavra que outros foram esquecendo ou vão fazendo por esquecer”, declarou o autarca independente, acrescentando: “O Porto não quer ser capital, mas sabe o papel decisivo da cidade e das cidades nesta viragem histórica em que os Estados vão perdendo soberania e novas formas de soberania e de cooperação se estão a desenvolver à frente dos nossos olhos”.

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