Governo começou a demolir 27 das 835 casas que quer deitar abaixo na costa

Intervenção em São Bartolomeu do Mar, Esposende, serviu para o ministro do Ambiente afirmar que, após anos de indefinição, agora é que o plano de demolições avança.

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Esta terça-feira começaram a ser demolidas as primeiras casas em São Bartolomeu do Mar Miguel Nogueira
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Esta terça-feira começaram a ser demolidas as primeiras casas em São Bartolomeu do Mar Miguel Nogueira
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O ministro do Ambiente elogiou a capacidade negocial das partes envolvidas e a tranquilidade que rodeou a operação Miguel Nogueira
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A praia de São Bartolomeu do Mar há muito que perdeu o seu areal Miguel Nogueira
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Imagem virtual da área contigua ao cruzeiro, após a requalificação que agora começou DR

Há 27 anos que, em São Bartolomeu do Mar, Esposende, se falava da necessidade de derrubar algumas casas que o Atlântico colocava em risco. E então ainda havia areia na praia, cobrindo grande parte da imensidão de penedos que esta terça-feira, pelo meio-dia, hora da baixa-mar, se mostravam inteiros, prova do avanço das ondas, que levou consigo praticamente todo o areal e se abeirou, perigosamente, do casario.

São tantas como os anos passados – 27, portanto – as casas que virão abaixo nos próximos meses. Cairão sob o olhar atento dos seu antigos ocupantes, que graças a uma negociação bem sucedida, acataram com "tranquilidade", como sublinhou o ministro do Ambiente, a intenção, agora materializada pelo Polis do Litoral Norte, de fazer recuar alguns metros a presença humana no local. Não foi preciso recorrer a expropriações, mas para alguns, como António Abreu, de 60 anos, o primeiro avanço da retroescavadora não deixou de emocionar.

Mas, aqui, tinha de ser assim, garantiu o presidente da Câmara de Esposende, o arquitecto Benjamim Pereira. Sem casas, o arranjo urbanístico que vai ser concretizado até ao final do ano vai dar mais relevo à pequena praceta do cruzeiro, de onde se assoma a uma praia, hoje coberta de seixos rolados, famosa pela romaria que leva o nome da terra e que inclui o muito conhecido Banho Santo. E até este ritual poderá ganhar melhores condições, tendo em conta que se prevê o reperfilamento da praia com areia, para além de obras de protecção do cordão dunar.

Maria, 60 anos, recorda-se bem da extensão, longa, da praia, onde paravam sargaceiras e pescadores do pilado, o caranguejo de corpo mole que, como as algas, servia para adubar os campos que subsistem, ali a metros de distância. Se o mar galgasse as dunas (como aconteceu a norte, em Vila Praia de Âncora), a actividade agrícola seria colocada em risco, pela salinização dos solos. E é isso também que se pretende evitar, explicou o autarca.

O ministro do Ambiente e do Ordenamento não faltou à cerimónia, que extravasou em muito o seu óbvio impacto local. Jorge Moreira da Silva fez questão de garantir que é desta que avançam centenas de demolições de casas junto à linha de água que há uma ou mais décadas são colocadas em risco pelos temporais do Inverno. A maioria das 835 habitações, muitas de génese ilegal, estão nas ilhas-barreira do Algarve, e até ao final do ano virão abaixo, garantido que esteja o realojamento dos seus actuais moradores, assinalou.

Aqui, em Esposende, o avanço do mar foi evidente. Cem metros, em três décadas, mediram os especialistas. Mas 25% de toda a costa portuguesa está sob pressão da erosão e quase 70 por cento da área restante pode vir a perder, com as alterações climáticas, parte do seu território. O que exige respostas diferentes, conforme as situações.

Se em São Bartolomeu do Mar, onde apenas sete das casas eram de habitação permanente, a opção foi demolir, em Ofir, junto às conhecidas torres homónimas, aposta-se na melhoria das defesas aderentes na costa, para evitar a transferência de centenas de pessoas. E ficam ainda por resolver as situações de duas centenas de residências em Pedrinhas e Cedovém, no sul do concelho.

O Governo tem 300 milhões de euros para investir na costa, e promete fazê-lo até ao final de 2015. As intervenções arrancam depois de um Inverno extremamente rigoroso, que inventou novos problemas, como a deslocação para sul da foz do rio Âncora, e piorou situações conhecidas, como as de Ovar ou da Costa da Caparica. Para estas, há 15,7 milhões que não permitiram, ainda assim, que todas as praias estejam nas melhores condições no arranque da época balnear. O que seria “impossível” de exigir, avisou o ministro.  

Costa da Caparica com trabalhos na praia Verão adentro
O ministro afirmou ainda que as operações de alimentação artificial das praias afectadas pelo mau tempo na Costa de Caparica, Almada, deverão começar no final de Junho, num investimento de cinco milhões de euros, mas avisou que os trabalhos deverão demorar dois meses. Moreira da Silva sublinhou que uma parte das intervenções naquelas praias já está concluída, como o paredão, a pavimentação e a recuperação dos acessos à praia. "Falta a alimentação artificial, que custa cinco milhões de euros. E não se gasta cinco milhões de euros de ânimo leve, são cinco milhões de euros dos nossos impostos", vincou, acrescentando que tiveram de ser respeitados todos os trâmites legais e que, pelo caminho, o Governo conseguiu reduzir 20 por cento do custo desta empreitada. Pressionado por muitos autarcas, que gostariam de ver as suas praias nas melhores condições este Verão, Jorge Moreira da Silva insistiu que foi dada prioridade às intervenções mais urgentes e que, cumprindo todos os passos a que a lei obriga, foi possível ainda assim “esmagar os prazos”.

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