Meriam só será libertada se o recurso da defesa for aceite em tribunal

Depois de notícias sobre a sua libertação, o governo sudanês nega saída de mulher da prisão.

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No último sábado surgiu a notícia que Meriam Yehya Ibrahim Ishag ia ser libertada nos próximos dias. O Ministério dos Negócios Estrangeiros sudanês vem agora desmentir a libertação e afirmar que a mulher, de 27 anos, apenas será colocada em liberdade se a resposta ao recurso da sua defesa for aceite em tribunal.

Abdullahi Alzareg, subsecretário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, afirmou, citado pela BBC, que Meriam seria libertada em breve, porque a tutela garantia a liberdade religiosa no país e a protecção da sudanesa.

Um dia depois, o marido de Meriam, Daniel Wani, indicava que não tinha recebido qualquer informação oficial sobre a possível libertação da mulher. “Nenhum mediador sudanês ou estrangeiro me contactou. Talvez existam contactos entre o governo sudanês e elementos estrangeiros que desconheço”, disse Wani à BBC. “Do que sei, terei que esperar pelo recurso apresentado pelo meu advogado e espero que a minha mulher seja libertada”, acrescentou.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros afirma o mesmo, numa declaração que desmente o que tinha sido avançado pelo seu subsecretário e que terá sido retirado do contexto em que proferiu as afirmações. Segundo o gabinete do chefe da diplomacia sudanesa, apenas o sistema judicial tem uma resposta final sobre o caso. “A equipa de defesa da cidadã recorreu do veredicto e, se o tribunal decidir a seu favor, será libertada”.

Segundo a tutela, o que Abdullahi Alzareg disse foi que o “governo não interfere com o trabalho da justiça porque é um corpo independente”. “Alguns meios de comunicação social pegaram no que o subsecretário disse fora de contexto, alterando o significado do que afirmou.”

Apesar do marido de Meriam ter manifestado esperança de que serão ouvidos os protestos nacionais e internacionais contra a sentença de pena de morte da mulher e que a condenação seja revogada, o advogado da família, Mohannad Mustapha, admite ter dúvidas de que a sudanesa seja libertada ou que as acusações sejam retiradas. “A única parte que pode fazê-lo é o tribunal de recursos, mas não tenho a certeza que tenham o processo completo”, argumentou Mohannad Mustapha. Esta quarta-feira deveria haver uma audiência em tribunal, que foi adiada por a documentação do caso não estar toda na posse da justiça.

A história de Meriam
Meriam foi educada pela mãe segundo a religião Ortodoxa e não islâmica, a fé do seu pai, um homem pouco presente durante a sua infância. Casou com um sudanês do sul, também cristão. Depois de ter sido acusada de adultério após a denúncia de um membro da sua família de que estava casada com um cristão (o casamento com pessoas de outra religião não é reconhecido pela sharia), Meriam foi acusada de renunciar à religião do seu país ao afirmar-se cristã. Um tribunal de Cartum considerou-a culpada de adultério e apostasia, após a mulher ter recusado, mais uma vez, o islão como a sua religião. Condenou-a à morte por enforcamento e a 100 chicotadas pelo adultério.

Detida desde 17 de Janeiro, Meriam entrou na prisão para mulheres de Omdurman, em Cartum, com o filho bebé Martin e grávida. Na terça-feira, Maya nasceu na enfermaria da prisão. Segundo o marido e a Amnistia Internacional, a mulher esteve acorrentada pelos tornozelos durante o parto, tal como tem estado desde a sua detenção há quatro meses.

Condenada à morte, Meriam tem direito a permanecer junto da filha durante dois anos após o nascimento. No final desse período deverá ser cumprida a sentença. Quanto às 100 chicotadas a que também foi condenada, a justiça sudanesa prevê que sejam infligidas assim que a mulher recuperar do parto.

A sudanesa mantém-se intransigente e recusa afirmar que trocou o islão pelo cristianismo. “Como posso regressar se nunca fui muçulmana? Sim, o meu pai era muçulmano, mas fui criada pela minha mãe”, questiona.

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