As primárias do PS

Às vezes as crises internas nos grandes partidos de governo provocam alguma inovação organizativa. Os cínicos e os apoiantes de António Costa, estão a ver o filme da proposta de António José Seguro de primárias para candidato a primeiro-ministro, aberto a militantes e simpatizantes, e não gostam.

António Costa aliás foi logo directo ao assunto demarcando-se de lideranças bicéfalas. Se ganhar, como é natural , Costa quer ganhar tudo, como tem sido quase sempre o caso no PS e no PSD.

O modelo é basicamente este: ganhar a liderança; ganhar as eleições; chegada a primeiro-ministro; “governamentalização” do partido, ou seja, partido dirigido a partir do chefe do governo com grupo parlamentar disciplinado; selecção da elite governamental na dependência exclusiva do primeiro-ministro, e aguentar.

No caso da presente disputa pela liderança do PS, vamos ver se teremos o modelo habitual ou alguma inovação, aqui entendida sem conotação valorativa. A democracia italiana já a experimentou à esquerda e a francesa também, mas é cedo para avaliar o impactos dela na imagem dos partidos de governo.

Habitualmente mais estruturado do que o PSD, e menos dado a grandes aberturas, o PS confirma a sua regra: são dois candidatos bem do interior do partido (e por lá desde os 14 ou 15 anos) que disputarão esta luta pelo poder, mas por mais voltas que dêem e das diferenças que construam em primárias, eleições directas, ou em congresso extraordinário, o motor será sempre o mesmo: convencer a comunidade militante que serão os melhores colocados para conseguirem vencer as eleições de 2015 e chegarem a primeiro-ministro. Aqui não há novidade, mesmo que Costa vença Seguro por cansaço. Que o digam os ex-futuros primeiros-ministros do PSD.
 

  

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