João Ferreira andou de comboio na linha de Sintra contra o fim da ferrovia pública

Candidato da CDU distribuiu propaganda e desejou que todos os passageiros, incluindo os da estação de Massamá, onde mora Passos Coelho, não votem nos que deixaram o país na actual situação.

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Nem parecia que ainda se estava em hora de ponta, com tanto lugar vago – “um fenómeno”, haveria de dizer uma passageira - e corredores vazios a pedirem um passeio do candidato entre as carruagens. João Ferreira, cabeça de lista da CDU andou esta terça-feira de manhã de comboio na linha de Sintra para contestar uma eventual privatização daquele serviço e lembrar que as políticas ferroviárias foram aprovadas em Bruxelas.

O candidato da CDU apanhou o comboio das 8h35, na estação da Portela de Sintra, com destino a Alverca, e acabou por sair sete estações depois, em Queluz-Belas. Ouviu as queixas do representante da comissão de trabalhadores da CP, que lhe entregou um pequeno relatório com os números mais significativos da operação da empresa, incluindo um retrato sobre a distribuição entre diversas empresas dos serviços antes prestados apenas pela CP, do transporte de mercadorias e passageiros à produção de material, passando, por exemplo, pela bilhética, reparação do material, manutenção da via ou controlo do tráfego.

Depois, andou pelas carruagens a distribuir papéis de campanha da CDU, numa abordagem simpática, com as câmaras de TV atrás. Pedia licença para deixar um “papelinho da CDU sobre as eleições de domingo”, e as mãos iam aceitando a propaganda. Só uma senhora começou a ralhar por estar a ser filmada.

As carruagens iam enchendo e nem quando passou na estação de Massamá-Barcarena João Oliveira se lembrou que ali perto mora o primeiro-ministro, mas lá disse depois esperar que não só os passageiros de Massamá mas todos os outros da linha de Sintra "percebam que não sairemos desta situação com aqueles que nos trouxeram a  ela". Desta vez os ataques ao Governo foram bem mais ligeiros.

Na estação de Queluz, onde se apeou, João Ferreira discorreu sobre os malefícios da estratégia para o transporte ferroviário aprovada em Bruxelas e que permitiu que Portugal pudesse desinvestir neste sector, suprimindo ligações, desmantelando linhas, concessionando serviços. Alguns, como é o caso da reparação e manutenção dos comboios, são assegurados por multinacionais estrangeiras como a Siemens.

O resultado, vincou o candidato da CDU, foi a diminuição de passageiros, o aumento dos preços e a perda de qualidade. Que se poderão acentuar se a concessão ou privatização de linhas como a de Sintra avançar. João Ferreira quer, por isso, que se revertam os passos dados no sentido da liberalização do sector ferroviário.

“Faz todo o sentido haver uma integração dos diversos serviços, não tem sentido separar a parte comercial da infra-estrutura. Os últimos anos deixaram isso claro: o desmembramento da CP com a sua separação em todas estas unidades levou a um aumento de custos para o Estado, com uma dívida brutal.”

Além disso, defendeu, deve apostar-se no alargamento da rede, para cobrir zonas do país que deixaram de ter ferrovia – em especial no interior -, electrificar toda a rede para poupar custos com a importação de combustível. Maior qualidade do serviço público de transporte ferroviário leva a maior utilização e vice-versa. São promessas para concretizar em propostas no Parlamento nacional e no europeu porque, vincou João Ferreira, a legislação que regula a privatização do sector tem sido aprovada aos poucos e é um processo que ainda não está concluído.

Questionado sobre o sentido do investimento numa linha de alta velocidade, João Ferreira defendeu que ele deve ser feito, mas não se quis comprometer com modelos ou com valores de investimento. Disse apenas que a ser feito deve sê-lo “com incorporação nacional” para revitalizar a produção nesta área, em vez de o país comprar carruagens prontas a outros países, como faz depois de a Sorefame “ter sido privatizada por um Governo PSD e depois ter encerrado definitivamente durante um Governo do PS”.

Em Queluz, uma passageira que usa a linha diariamente disse que hoje deveria “haver um fenómeno qualquer estranho” porque àquela hora o comboio vai sempre cheio e aconselhou o candidato a viajar no das 18h que parte do Rossio para Sintra. “Parecemos sardinha em lata, não se consegue respirar; são condições sub-humanas”, queixava-se Rosário Narciso que mora em Massamá e trabalha em Lisboa.

De regresso a Sintra, a comitiva da CDU visitou o edifício do Departamento de Urbanismo e Obras Municipais, na Portela, para onde foram transferidos há pouco tempo alguns serviços, e é o que mais trabalhadores da autarquia concentra. A CDU elegeu apenas um vereador para a Câmara de Sintra nas autárquicas de Setembro passado, mas o presidente socialista, Basílio Horta cumpriu a tradição e atribui-lhe o gabinete do Licenciamento das Actividades Económicas e Gestão de Mercados. Pedro Ventura não se juntou hoje à comitiva da CDU por estar em reunião de câmara.

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