A narrativa socrática regressou em Trás-os-Montes

Francisco Assis e Silva Pereira regressaram ao tema da responsabilidade pela vinda da troika, endossando-a ao PSD.

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Francisco Assis assumiu-se publicamente contra a viragem do PS à esquerda Nfactos/Fernando Veludo

A passagem da caravana socialistas pelos distritos de Bragança e Vila Real resultou neste sábado na recuperação da batalha pela responsabilidade do passado recente. Durante o dia pairou o legado do anterior líder e primeiro-ministro, José Sócrates. Afinal, a campanha andou por Vila Real, onde o ex-ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, tem encabeçado as listas socialistas a sucessivas eleições.

O resultado prático foi o retomar do combate pela responsabilidade da vinda da troika a Portugal. Não que, pelo que se viu nas iniciativas de rua, os eleitores estivessem particularmente interessados no tema.

O pior cenário não se confirmou. Não houve reacções negativas a um dos rostos mais visíveis do anterior governo. A nota dominante foi a indiferença. O momento em que Silva Pereira sobressaiu foi em Macedo de Cavaleiros, na Feira da Saúde, quando duas apoiantes deram de caras com o antigo governante. “Olha, este foi vice-primeiro-ministro…”, largava uma, confundido a proximidade de Silva Pereira com Sócrates com o peso de Paulo Portas no Executivo de Passos Coelho.

O resto das rondas não foi tão entusiasmante. Os candidatos, tanto em Mirandela como em Bragança, tiveram de se esforçar para ir ao encontro de pessoas. Passaram por sapatarias, cafés e talhos. Num destes tiveram até de ouvir reparos de um talhante que se queixava de só ver políticos quando precisavam de votos. A coisa melhorou noutro talho, quando ouviram de outro profissional apoio para “dar a volta” ao país. “Esta carne aqui é muito melhor que a outra”, ironizou Assis.

Apesar da indiferença – um lojista perguntou mesmo ao cabeça de lista se entrava na sua loja por causa da câmara – Silva Pereira e Assis não deixaram de fazer um regresso ao passado.

No almoço com militantes e apoiantes foi até mais longe na narrativa que o braço direito de Sócrates. "É mais fácil enganar as pessoas a respeito do passado do que enganá-las a respeito do presente. Paulo Rangel fala do passado com mentiras, desde logo propagando a ideia de que foi o Governo do PS o responsável pela entrada da troika (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia", acusou Assis.

O cabeça de lista do PS foi mesmo ao baú das recordações políticas para repescar uma conversa telefónica alheia. "É bom lembrar aquela célebre conversa, que foi decisiva, em que o dr. Marco António telefonou ao doutor. Passos Coelho a dizer-lhe: Meu caro Pedro, ou derrubas o Governo [de Sócrates], ou derrubamos-te a ti da liderança do PSD", referiu.

Silva Pereira não foi muito diferente: "Sim, foram eles [direita] que empurraram o país para a ajuda externa ao provocarem uma crise política irresponsável na pior das alturas", disse o ex-ministro no mesmo almoço.

Apesar disso ainda houve tempo para outros temas. Silva Pereira lembrou que o "maior adversário" da mudança política é a "abstenção, a resignação, a desistência", e é preciso lembrar os portugueses que nas eleições europeias "decide-se o futuro de Portugal e da Europa".

 
 

   

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