Abbas e Meshaal encontram-se para acelerar acordo de reconciliação palestiniano

300 polícias da Autoridade Palestiniana vão ser transferidos para Gaza, num primeiro sinal de que o acordo celebrado em Abril começa a tomar forma.

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Mahmoud Abbas e Khaled Meshaal, no Qatar REUTERS/Thaer Ghanaim

Duas semanas depois de anunciado um novo acordo de reconciliação e a três do fim do prazo para a constituição de um governo de unidade palestiniano, os líderes da Fatah e do Hamas voltaram a encontrar-se frente a frente. A reunião coincide com as primeiros sinais de que, após duas tentativas falhadas, começou a ser posto em marcha o plano para superar sete anos de cisão entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana e chefe da Fatah, chegou domingo à noite a Doha, onde o líder do Hamas, Khaled Meshaah, instalou o seu quartel-general, depois de se ter distanciado do regime sírio, que durante anos lhe deu exílio. Foi uma “reunião longa” e realizada “numa atmosfera positiva”, revelou o Hamas em comunicado, durante a qual os líderes das duas principais facções se comprometeram a concluir o quanto antes a formação de um novo governo e concertar posições para que ele seja reconhecido internacionalmente.

O último encontro entre os dois aconteceu em Janeiro de 2013 e, tal como agora, esperava-se algum indício de que as tentativas de reconciliação – a primeira mediada pelo Egipto, em 2012, a segunda pelo Qatar, em 2012 – não se ficariam pelo papel. Desta vez, porém, parece haver algo mais do que palavras de circunstâncias.

Domingo, o secretário-geral do Hamas, Abd al-Salam Siyam, anunciou que 300 polícias da Autoridade Palestiniana vão ser transferidos para Gaza. Quando, em 2007, os paramilitares do Hamas tomaram o poder naquele território, numa guerra breve mas sangrenta, milhares de agentes das forças controladas pela Autoridade Palestiniana ficaram sem trabalho, outros fugiram para a Cisjordânia, selando a separação de facto entre os dois territórios. O futuro das forças do Hamas é um dos temas sensíveis da reconciliação, mas Siyam disse à AFP que as duas partes decidiram que “a situação no plano de segurança na Faixa de Gaza vai manter-se inalterada durante o período de transição”.

O responsável adiantou também que Azzam al-Ahmad, um dos dirigentes da Fatah envolvido no acordo assinado dia 23, vai visitar esta semana Gaza para acelerar a formação de um governo de unidade, que será chefiado por Abbas e terá como principal missão preparar eleições legislativas e presidenciais no prazo de seis meses – as primeiras nos territórios palestinianos desde 2006. O objectivo será anunciá-lo dentro de duas semanas, adiantam fontes palestinianas citadas pelo jornal Jerusalem Post.

Sepultada está, em definitivo, a mais recente tentativa para relançar as negociações de paz com Israel – depois de o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ter suspendido as conversações, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, afirmou domingo que é tempo de fazer “uma pausa”. Em simultâneo, o Hamas reafirmou que “não reconhecerá nunca” o Estado israelita, uma das condições impostas pelos mediadores internacionais para um acordo de paz.

E o hiato que se abre cria condições para o extremar de posições. Domingo, Netanyahu anunciou planos para inscrever nas leis fundamentais do país o estatuto de Israel como “o Estado de um único povo – o povo judeu – e nenhum outro”. O pressuposto consta da declaração de independência, cujo 66º aniversário se cumpre nesta terça-feira, mas várias tentativas para o inscrever nas leis que regem o Estado israelita mostraram-se demasiado controversas, com a minoria árabe e a esquerda a afirmarem que minaria a democracia.

Netanyahu assegura que as leis do país “asseguram que todos os cidadãos têm direitos iguais”, mas diz que não é possível defender a solução de dois Estados, um israelita e um palestiniano, “e ao mesmo tempo insistir na santidade de um estado binacional, árabe-judeu, dentro das fronteiras permanentes de Israel”.

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