Voos da Guiné-Conacri controlados para evitar que a febre do ébola se espalhe

Receia-se que a doença saia do continente africano, onde já matou mais de 90 pessoas, num surto sem precedentes.

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O surto começou na Guiné-Conacri e a doença é mortal em 90% dos casos SEYLLOU/AFP

As saídas do aeroporto da capital da Guiné-Conacri começaram a ser controladas por equipas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da organização não-governamental Médicos de África, para garantir que os passageiros não são portadores do vírus ébola, diz a AFP. O receio é que esta febre hemorrágica se espalhe para outros continentes.

O Mali é já o quarto país a anunciar ter casos suspeitos da febre hemorrágica ébola, quando já morreram mais de 90 pessoas na Guiné-Conacri e na Libéria. Foram detectadas três pessoas que podem estar infectadas com o vírus e estão em quarentena até ser confirmado o resultado das análises, mas acentua-se o receio de que se possa estar perante um surto regional na África Ocidental de dimensões inéditas.

Num comunicado citado pela AFP, o Governo do Mali indica que, "nos três casos suspeitos, foram recolhidas amostras biológicas". "As amostras foram enviadas para análise ao laboratório de referência do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças [CDC] de Atlanta, nos Estados Unidos. Enquanto se aguardam os resultados, os doentes foram colocados numa unidade de isolamento onde recebem cuidados médicos. O ministro da Saúde do Mali apelou à população para se manter calma e não entrar em pânico.

O que não é fácil: em Macenta, na Guiné-Conacri, uma equipa dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) foi atacada pela população local, desconfiada de que as medidas de isolamento dos doentes postas em prática pela organização não-governamental para tentar conter a infecção são responsáveis pela propagação da doença. "A ajuda dos MSF e de todas as estruturas internacionais que estão a apoiar a Guiné é inestimável e está a permitir circunscrever a doença", sublinhou o Governo, em comunicado.

Sem um medicamento ou vacina que permita tratar esta doença viral, que pode ter uma mortalidade que chega a 90%, não há muitas formas de conter a infecção. Há que identificar as pessoas doentes o mais cedo possível e colocá-las em isolamento, evitando todo o contacto com o seu sangue e fluidos corporais – através dos quais se faz o contágio –, e estabilizando o paciente o melhor possível.

Mas este surto já está a decorrer há dois meses – levou muito tempo a ser identificado como Ébola. Na Guiné-Conacri já morreram pelo menos 86 pessoas, e na Libéria sete, diz a Reuters. A Gâmbia tinha colocado duas pessoas em quarentena, sob suspeita da doença, mas os casos deram negativo.

Agora, a infecção está a espalhar-se como fogo no capim, e passa por países com fortes ligações a nações europeias, como França. Além dos MSF franceses, há equipas do Instituto Pasteur no aeroporto Roissy Charles-de-Gaulle, em Paris, prontos para fazer intervenções de emergência, anunciou a ministra da Saúde francesa, Marisol Touraine. O receio, precisamente, é que a infecção chegue à Europa.

A estirpe do vírus que está a causar este surto é do tipo Zaire, a mais mortal entre as cinco conhecidas, e nunca antes tinha sido detectada na África Ocidental. A doença foi identificada pela primeira vez em 1976, na República Democrática do Congo, e desde então já morreram cerca de 1500 pessoas.

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