Primeiras análises não confirmam chegada do Ébola a Conacri

Num país com infra-estruturas sanitárias já fracas, uma doença como esta pode ser devastadora, alerta a Unicef.

As autoridades da Guiné Conacri negam que o surto de Ébola que já matou 61 pessoas no Sul do país tenha chegado à capital, uma vasta cidade costeira com mais de 1,5 milhões de habitantes, contrariando a informação adiantada no domingo pela Unicef.

“De momento, não há Ébola em Conacri, mas uma febre hemorrágica que ainda não foi determinada”, revelou Sakota Keita, médico no Ministério da Saúde guineense, depois de ter recebido os primeiros resultados das análises às amostras de sangue colhidas nas três pessoas que adoeceram na capital.

O responsável explicou que as amostras foram enviadas para o Instituto Pasteur em Dakar que, “trabalhou de urgência durante toda a noite passada nas amostras suspeitas, que se revelaram negativas” à presença do vírus de Ébola. “Nas próximas horas os resultados dos exames vão-nos dar mais informações”.   

Domingo, a Unicef alertava que “durante os últimos dias, a doença propagou-se rapidamente das comunidades de Macenta, Guéckédou e Kissidougou [no Sul] à capital, Conacri”, adiantando que as três vítimas eram crianças, alertando para os riscos que a chegada do surto a uma cidade daquela dimensão poderá ter.

O vírus de Ébola, altamente contagioso e para o qual não existe vacina nem cura, costuma ser particularmente mortífero porque o pessoal médico está entre as primeiras vítimas, o que ameaça o tratamento em países que sofrem já de falta de médicos – os surtos conhecidos têm ocorrido em zonas remotas dos países da África Ocidental e Central. Pelo menos oito agentes de saúde já morreram na Guiné, confirma a Unicef.

“Na Guiné, um país com infra-estruturas sanitárias já fracas, uma doença como esta pode ser devastadora”, alerta Mohamed Ag Ayoya, representante no país do Fundo das Nações Unidas para a Infância. O organismo já enviou cinco toneladas de medicamentos e de equipamento médico para as zonas mais afectadas. Sábado, a organização internacional Médicos Sem Fronteiras já anunciara uma intervenção de urgência no país, com o envio de dezenas de especialistas e toneladas de material médico e equipamento para os centros de isolamento.

A Unicef recorda ainda que antes deste surto a Guiné Conacri já estava a braços com outras três crises de saúde: cólera, sarampo e meningite.  

Desde 9 de Fevereiro que uma febre hemorrágica tinha sido diagnosticada em vários doentes no Sul da Guiné Conacri. Sábado, as autoridades confirmaram que se trata de Ébola e o Ministério da Saúde admitia-se “esmagado”.

Ainda antes da confirmação de que se tratava de Ébola, a Organização Mundial de Saúde dissera que casos com sintomas semelhantes aos registados na Guiné Conacri tinham sido identificados na Serra Leoa, perto da fronteira com a Guiné.

Esta doença, que se transmite entre humanos através do contacto com o sangue das hemorragias que causa nos doentes, mata até 90% dos infectados. Foi reconhecida pela primeira vez em 1976 na actual República Democrática do Congo, tendo recebido este nome por causa do rio Ébola, um afluente do rio Congo. Conhecem-se até agora cinco estirpes distintas deste vírus, sendo que algumas são muito mais agressivas. O vírus dissolve literalmente os órgãos internos dos doentes, que perdem sangue até pelos olhos e ouvidos e acabam, em geral, por morrer de choque ou paragem cardíaca.

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