O livro de reclamações dos estudantes do Superior já tem milhares de páginas

Das dificuldades em pagar as propinas à recusa de bolsas, passando pelas consequências dos cortes no orçamento das universidades: associações académicas assinalam, esta segunda-feira, Dia do Estudante divulgando críticas dos alunos. O objectivo é fazê-las chegar a Cavaco Silva e Passos Coelho

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As queixas contra o valor das propinas enchem várias folhas do livro de reclamações dos estudantes Foto: Daniel Rocha

Há queixas sobre as consequências dos cortes no orçamento das universidades e institutos politécnicos. Há alertas para a importância do ensino superior no desenvolvimento do país. Outros preferem desabafos mais pessoais, relatando as dificuldades sentidas no momento de pagar as propinas ou as dificuldades por que passam por terem visto a bolsa de estudo ser recusada.

São milhares de páginas de protesto de estudantes do ensino superior nacional, recolhidas nos últimos dias pelas associações académicas juntos de colegas de todo o país e que hoje começam a ser tornadas públicas, assinalando o Dia Nacional do Estudante. Depois disso, as reclamações vão ser reunidas em livro e enviadas ao Presidente da República e ao Governo.

Nos últimos dias da semana passada, as associações académicas e de estudantes lançaram o desafio aos alunos do ensino superior para que se pronunciassem sobre o sector. Estiveram à procura de conhecer as preocupações que os colegas da sua universidade ou politécnico manifestavam, abordando-os nas cantinas ou noutros espaços públicos da faculdade. Em dois dias, a Associação Académica de Coimbra (AAC) juntou mais de mil protestos escritos à mão pelos estudantes da mais antiga universidade do país. Só no primeiro dia de iniciativa, a Federação Académica do Porto (FAP) reuniu mais de 400 testemunhos. E como o desafio se alargou a todas as instituições de ensino superior do país, há muitos milhares de páginas já reunidas nos últimos dias e que são um retrato da forma como os estudantes vêem o sector em 2014.

Algumas destas mensagens são esta segunda-feira afixadas nas entradas das faculdades e escolas das várias instituições, dando a conhecer as preocupações aos colegas. “Também vamos deixar espaços em branco, para que quem ainda não se pronunciou possa fazê-lo”, explica Ricardo Morgado, presidente da AAC. “O objectivo é continuar a juntar contributos para termos o maior número de mensagens possível”, acrescenta Rúben Alves, líder da FAP.

 “Temos mensagens muito interessantes que são um reflexo da forma como as pessoas percepcionam a importância do ensino superior para o desenvolvimento do país”, conta Alves. Os principais contributos “centram-se sobretudo na exigência da educação e no ensino superior como prioridades”, confirma Ricardo Morgado. Mas há também relatos de situações pessoais. Muitos dos contributos servem de desabafo. “Os estudantes entendem bem as dificuldades que o ensino superior atravessa”, acredita o presidente da AAC. Para aquele dirigente, os últimos três anos “foram muito difíceis” para os alunos do superior: “As dificuldades das famílias aumentaram, as propinas aumentaram e a acção social não tem respondido às necessidades”.

Funeral e Facebook 
Esta segunda-feira será o primeiro momento de divulgação dos contributos dos alunos do ensino superior, assinalando o Dia Nacional do Estudante, que cumpre a sua 52ª edição – a crise académica de 1962, marcada por detenções e cargas policiais, está na origem da efeméride. O protesto dos estudantes terá um segundo momento de divulgação, quando as mensagens forem reunidas num livro, que será enviado ao Presidente da República, Cavaco Silva, ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e a outros membros do Governo, bem como aos responsáveis pelas instituições de ensino superior públicas.

“Temos que dar visibilidade ao momento por que está a passar o ensino superior”, defende Rúben Alves. As associações académicas reconhecem que é necessário convocar mais estudantes para se envolverem no combate aos problemas do sector em Portugal. Esta segunda-feira é “uma boa altura, para que os estudantes percebam que este é o seu dia”, afirma o presidente da FAP.

O protesto vai passar pelas redes sociais, já que as mensagens dos alunos estão a ser transformadas em pequenas imagens que cada autor poderá partilhar na sua própria conta do Facebook ou do Twitter. Mas vai também sair à rua, com acções locais nas cidades que acolhem as instituições de ensino superior, onde os dirigentes estudantis vão conversar com a população, tentando sensibilizar as pessoas para as dificuldades por que passa o sector. No Porto, os alunos de Belas-Artes vão desenhar um modelo nú, em frente à sua faculdade, enquanto em Aveiro se simula o "funeral" do Ensino Superior. Já em Coimbra, os universitários vão concentrar-se no Largo de D. Dinis para erguer um "mural das Reivindicações".

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