Sindicato diz que adesão à greve na Valorsul ronda os 80%

Paralisação visa protestar contra a privatização da empresa que serve 19 municípios da Área Metropolitana de Lisboa.

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Câmara quer impedir o Estado de alienar o capital maioritário da Valorsul, através da privatização da EGF João Henriques/Arquivo

A adesão à greve dos trabalhadores na central da Valorsul, em Loures, rondava às 8h30 desta segunda-feira os 80%, segundo o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Centro-Sul e Regiões Autónomas. Depois das 16h, hora a que terminou mais um turno, a situação mantinha-se, com o sindicato a garantir que a paralisação vai continuar. A empresa, porém, tem outros números e garante que tem estado a receber resíduos.

“A informação que nós [sindicato] temos é que na Valorsul só estão a funcionar na central os serviços mínimos e mais alguns trabalhadores da zona administrativa. No aterro sanitário, além dos serviços mínimos só estão dois trabalhadores, o que quer dizer que na nossa perspectiva a greve referente ao turno das 8h ronda os 80%”, disse à Lusa o dirigente sindical Navalha Garcia, ao início da manhã.

Num novo ponto de situação às 17h, Navalha Garcia recusou actualizar números sobre a adesão, preferindo "não entrar na guerra dos números, que não serve os trabalhadores". Mas garantiu ao PÚBLICO que na Central de Valorização Energética de S. João da Talha e no aterro sanitário de Mato da Cruz, em Vila Franca de Xira, "não entrou nenhuma viatura para entregar lixo". No centro de tratamento do Cadaval entraram "um ou dois carros" para depositar resíduos.

Por outro lado, num comunicado emitido às 17h45, a Valorsul disse que a adesão à greve neste primeiro dia foi de 32%, considerando todas as instalações da empresa e todos os turnos do dia. Os números variam nos vários locais, sendo o mínimo de 13% no Centro de Tratamento de Resíduos do Oeste, no Cadaval, e o máximo de 63% na central de S. João da Talha.

A Valorsul sublinha que o aterro sanitário do Cadaval "está a funcionar em condições normais, estando a receber resíduos como habitualmente, o mesmo se passando em todas as estações de transferência desta região". E acrescenta que "na região de Lisboa, as câmaras municipais não encaminharam, até ao momento, qualquer veículo para descarga, apesar de os serviços mínimos estarem assegurados". A empresa diz que já informou os municípios de que tem condições de receber resíduos nas suas instalações. "O portão desta instalação se encontrar encerrado não deve ser considerado como impedimento à referida recepção", esclarece.

A greve dos trabalhadores contra a privatização da empresa teve início à meia-noite e vai durar quatro dias. Na origem da paralisação está a privatização de 100% da participação do Estado na Empresa Geral de Fomento (EGF), uma sub-holding do grupo Águas de Portugal para o sector dos resíduos, aprovada no final de Janeiro pelo Governo. Sobre os motivos apresentados pelos sindicatos, "nomeadamente os que respeitam a cortes salariais, remuneração de trabalho suplementar e outras medidas de contenção orçamental, esclarece-se que os mesmos resultam do facto de a Valorsul ser uma empresa do Sector Empresarial do Estado", afirma a empresa em comunicado, sublinhando que as restrições "manter-se-ão enquanto a maioria do capital social da empresa se mantiver na esfera pública".

Câmaras apelam à população que guarde o lixo em casa
A EGF é responsável pela recolha, transporte, tratamento e valorização de resíduos, através de 11 empresas concessionárias, da qual faz parte a Valorsul, situada no concelho de Loures e que serve 19 municípios da Área Metropolitana de Lisboa e da zona Oeste: Alenquer, Alcobaça, Amadora, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Bombarral, Cadaval, Caldas da Rainha, Lisboa, Loures, Lourinhã, Nazaré, Óbidos, Odivelas, Peniche, Rio Maior, Sobral de Monte Agraço, Torres Vedras e Vila Franca de Xira.

Alguns destes municípios, como Lisboa e Amadora, estão a pedir aos munícipes que evitem depositar os resíduos na rua até ao final de quinta-feira. Em relação aos restantes municípios abrangidos pela Valorsul, Navalha Garcia afirmou que "há câmaras que vão recolher o lixo" e que, ou elas próprias "farão o armazenamento temporário do lixo, ou vão tentar manter os resíduos nas viaturas", até ao final da greve.

Num comunicado publicado na sua página na Internet, a Câmara de Lisboa admite que a greve dos trabalhadores da Valorsul "poderá afectar o normal funcionamento do sistema de limpeza e recolha de lixo na capital". Por isso, "recomenda a todos os moradores que separem e acondicionem devidamente os seus resíduos domésticos e evitem, no período em causa, a sua deposição na rua". Por outro lado, a autarquia assegura que os serviços de higiene e limpeza do município "vão desenvolver todos os esforços com vista a minimizar as eventuais consequências" da greve e, a partir de sexta-feira, "proceder à rápida normalização do sistema de remoção de lixo e actividades complementares".

A Câmara da Amadora diz que reforçou a recolha de lixo durante o fim-de-semana e apela à população que evite pôr o lixo na via pública até quinta-feira. Durante a semana, "a situação será gerida dia-a-dia", disse à Lusa fonte da autarquia. Pedindo compreensão para "possíveis incómodos" pela redução da capacidade de recolha, a câmara apela à população "para que os resíduos sejam armazenados em sacos devidamente fechados". Se o contentor perto da residência estiver cheio, os sacos não devem ser colocados no chão, "de modo a evitar a propagação de lixos pela via pública", aconselha a autarquia.

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