Patriarca de Lisboa diz que Papa cumpriu todas as esperanças que a sua eleição abriu

Em Fátima, onde os peregrinos esperam ver o Papa Francisco em 2017, João Paulo II continua a ser o preferido.

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O Papa Francisco à sua chegada à Praça de São Pedro para a audiência geral Alessandro Bianchi/Reuters

O patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, fez esta quarta-feira um balanço muito positivo do primeiro ano de pontificado do Papa Francisco, cuja coerência e consistência destacou, considerando que cumpriu “todas as esperanças que a sua eleição abriu”.

“É um balanço extremamente positivo, porque o Papa Francisco tem cumprido todas as esperanças que a sua eleição abriu”, afirmou Manuel Clemente, referindo que “tem com ele a proveniência da América Latina” que significa, também, “a da grande parte do catolicismo mundial” que “personaliza”. O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa referiu que isso significa, igualmente, “aquele grande balanço missionário, expansivo, que o catolicismo sul-americano ganhou, em especial desde 2007, com a reunião de Aparecida e o Documento de Aparecida”, no Brasil, por ocasião do V Congresso Episcopal da América Latina e das Caraíbas.

“Todos nós ficámos muito esperançosos de que algo semelhante aconteceria na Europa e ele imediatamente o começou a fazer”, referiu Manuel Clemente, adiantando que no primeiro domingo após a eleição papal, completa na quinta-feira um ano, Francisco foi à igreja de Santa Ana, “a igreja paroquial da Santa Sé”, e o contacto que teve com as pessoas na missa e, depois, na rua "marcou logo ao começo um estilo de pontificado que continua em Roma e na Europa e no mundo aquilo que ele fazia como arcebispo de Buenos Aires".

Simplicidade, o principal atributo
O cardeal-arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, foi eleito papa a 13 de Março do ano passado pelos 115 cardeais reunidos em Roma, assumindo o nome de Francisco. Sucedeu a Bento XVI, que resignou. A simplicidade é o atributo do Papa que os peregrinos de Fátima mais destacam, desejando que Francisco visite em 2017 a cidade santuário, onde João Paulo II continua a somar preferências.

“Diz o que tem para dizer e atende a toda a gente, seja pobre seja rico, pequenino ou grande, é muito bom”, resumiu Luzia Santos, de 77 anos, natural de Fátima, no distrito de Santarém, ao ser interpelada pela Lusa quando, a passo acelerado e terço na mão, se dirigia para a Capelinha.

O brasileiro Luís Carlos, de 38 anos, destacou uma das conquistas do primeiro ano de pontificado de Francisco, consagrado à Virgem de Fátima: “Tem trazido a juventude para ir à Igreja Católica que, aparentemente, sumiu”. A este propósito recordou a multidão de jovens que acompanhou, em permanência, Francisco por ocasião da sua presença na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, Brasil. “É uma pessoa simples, também”, declarou o turista, para quem Francisco “era o Papa que a igreja estava a precisar”.

Arsénia Ribeiro, de 71 anos, residente em Torres Novas, acrescentou: "Este Papa é uma bênção de Deus para o mundo de hoje". Instada a comparar Francisco com os seus antecessores – Bento XVI, Papa emérito que esteve em Fátima em 2010, e João Paulo II, que visitou o santuário por três vezes, em 1982, 1991 e 2000, a peregrina afirmou: “São todos diferentes, cada um com o seu carisma, cada um com o seu estilo”. “João Paulo II foi fantástico, Bento XVI foi fantástico, este Papa é a simplicidade, a alegria que ele transmite, a candura, o espírito de pobreza e autenticidade", considerou Arsénia Ribeiro, certa de que, em 2017, quando se assinalam o centenário dos acontecimentos de Fátima, ele estará em Fátima.

Para o belga Eddy Garwig, de 56 anos, nenhum Papa mudará a sua preferência: “Estou muito contente por ele ser Papa, mas eu gostei muito de João Paulo II”. “Acho que [o discurso de Francisco] é mais moderno agora, mas João Paulo II é o Papa do meu coração”, argumentou. Sandro Veiga, cabo-verdiano de 28 anos a residir em Lisboa, não hesitou nas comparações: “Francisco é mais próximo do povo, pelo menos mais do que Bento XVI”. “Eu identifico-me mais com João Paulo II”, declarou, referindo que este não é, apenas, o Papa de Fátima, onde, na sua última visita, beatificou os videntes Francisco e Jacinta Marto: “Eu era criança, mas lembro-me da sua visita a Cabo Verde.”

João Paulo II canonizado em Abril
Nas lojas de artigos religiosos, nas imediações do Santuário de Fátima, a procura por imagens de João Paulo II não pára, a mês e meio da sua canonização, agendada para 27 de Abril. “Os peregrinos procuram mais imagens de João Paulo II”, disse a funcionária de uma loja, referindo que as imagens do Papa Francisco também se vendem, mas no caso das de Bento XVI “não há procura”.

Numa outra loja, Micaela Santos, de 20 anos, referiu que no início do pontificado de Francisco a procura era tímida. Agora as vendas parecem aumentar ao mesmo ritmo da popularidade do primeiro Papa latino-americano. “Ultimamente [as imagens] têm sido muito procuradas”, referiu a vendedora, adiantando, contudo, que continuam a ser “bastantes” os artigos com a figura de João Paulo II que saem da loja.

O mesmo não acontece com os objectos nos quais se destaca a imagem de Bento XVI. “Este [Francisco] parece que toca mais no coração das pessoas”, notou Micaela Santos, esperançada que o Papa pise Fátima em 2017. “Para ver se nos aquece um bocadinho o coração”, declarou.

O patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, mostra-se convicto de que em 2017 o chefe de Estado do Vaticano visitará Portugal. “Há-de vir, com certeza, em 2017, para o centenário das Aparições de Fátima, como vieram já os Papas anteriores, porque, hoje em dia, Fátima – a que aliás ele está ligado pela devoção a Nossa Senhora de Fátima – é uma realidade do cristianismo mundial e, concretamente, do catolicismo. Temos encontro marcado, com certeza”, acrescentou Manuel Clemente.

“Parabéns”, diria Manuel Clemente
Se tivesse oportunidade de estar com o Papa, neste primeiro aniversário da eleição, Manuel Clemente dar-lhe-ia os “parabéns”. “Dizia-lhe 'auguri' Papa Francisco e continuamos consigo no mesmo caminho, porque é muito estimulante, muito evangélico, corresponde muito com o próprio Evangelho de Jesus Cristo àquilo que são os imensos problemas com que a humanidade hoje se confronta”, disse o patriarca.

Notando que “imediatamente a adesão foi grande por parte de praticantes, não praticantes, crentes, não crentes”, Manuel Clemente justificou: “Eu creio que o mundo de hoje precisa de personalidades autênticas que estão para os outros, que estão disponíveis, que realmente acolhem”. As pessoas perceberam isso, não foi uma semana, não foi um mês, já lá vão 12 meses e este ano completo ainda promete muito mais”, referiu.

Neste período, o patriarca afirmou que o mais impressionou foi a “coerência e consistência” de Francisco: “Ele está hoje como estava no dia em que aceitou o pontificado, isso mesmo, faz pontes”.

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