Exército apela à unidade antes dos protestos da Irmandade Muçulmana

Estado de emergência nas províncias do Suez e do Sul do Sinai depois de ataques contra postos militares e um aeroporto.

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As forças de segurança têm vigiado de perto os protestos Amr Abdallah Dalsh/Reuters

Os militares egípcios apelaram à “unidade” e à “reconciliação nacional”, pedindo aos egípcios para rejeitarem a “vingança”. Dois dias depois do derrube do Presidente Mohamed Morsi pelas Forças Armadas, a Irmandade Muçulmana marcou para esta sexta-feira manifestações em todo o país em defesa da “legitimidade” e contra a “usurpação” do poder que tinha conquistado nas urnas.

“Vamos continuar a controlar a segurança dos locais dos protestos e, se necessário, garantir que os defensores e os anti-Morsi não se confrontam. Vamos deixar que se manifestem e que vão onde quiserem”, disse à Reuters um responsável militar.

A Coligação Nacional em Apoio da Legitimidade, liderada pela Irmandade, pediu “ao povo egípcio para tomar as ruas e se mobilizar pacificamente” depois das orações de sexta-feira, as mais importantes da semana. O objectivo é dizer “‘não’ às detenções militares, ‘não’ ao golpe militar”. Na quinta-feira foram detidos os principais líderes do movimento islamista e do seu Partido da Justiça e da Liberdade, criado em 2011, incluindo Morsi.

“Participar em protestos pacíficos e ter liberdade de expressão são direitos garantidos a toda a gente, direitos que os egípcios contam entre os principais ganhos da sua gloriosa revolução”, assegura o Conselho Supremo das Forças Armadas num comunicado. Mas promete “resposta firme” a actos violentos e que “ponham em causa a segurança nacional”.

Os generais asseguram que não haverá “medidas arbitrárias contra nenhuma facção ou corrente política”, uma garantia que os acontecimentos dos últimos dias parecem desmentir. A Irmandade Muçulmana denuncia “o terror do Estado policial que prendeu figuras da confraria e do partido” depois de “um golpe de Estado militar contra a legitimidade [de Morsi]”, ao mesmo tempo que pede aos seus apoiantes para se manifestarem pacificamente.

As Forças Armadas anunciaram na quarta-feira à noite a suspensão da Constituição, nomeando o presidente do Tribunal Constitucional, Adly Mansou, para assumir a presidência. Vai seguir-se a formação de um governo de técnicos que governará o país até que se realizem novas eleições.

Mohamed ElBaradei, nomeado representante da coligação Frente de Salvação Nacional, que reúne partidos liberais e de esquerda, descreveu a “intervenção do Exército” como uma “medida dolorosa”. Depois de manifestações que juntaram milhões de egípcios a pedir a demissão de Morsi, ElBaradei aplaudiu o ultimato feito pelos militares ao Presidente – 48 horas para se demitir ou enfrentar as consequências. E quando o chefe das Forças Armadas, general Abdel Fatah al-Sissi, anunciou aos egípcios o plano de transição, o antigo chefe da agência da ONU para o nuclear esteve ao seu lado.

“Infelizmente, Morsi minou a sua própria legitimidade ao declarar-se um faraó”, disse ElBaradei à BBC. O antigo diplomata disse esperar que os membros da Irmandade Muçulmana sejam em breve libertados da prisão e revelou ter pedido aos militares para tratarem Morsi com “toda a dignidade de um ex-Presidente”.

Apesar de todos os apelos à calma, desde as manifestações do fim-de-semana já morreram perto de 60 pessoas e centenas ficaram feridas em confrontos em várias cidades.

O Exército egípcio declarou entretanto o estado de emergência nas províncias do Suez e do Sul do Sinai, depois de um ataque de suspeitos islamistas radicais contra o aeroporto de El Arish, cidade no Sinai.

Horas antes, ataques simultâneos mataram um soldado e feriram dois. Os ataques visaram um posto de controlo do Exército em Gura, no norte da Península do Sinai, e um posto da polícia e um edifício ocupado pelos serviços secretos em Rafah, cidade que faz fronteira com a Faixa de Gaza palestiniana. O posto fronteiriço de Rafah foi encerrado

A violência já tinha aumentado na região desde a queda de Hosni Mubarak, em 2011. Vários grupos islamistas a operar no Sinai ameaçaram responder ao afastamento de Morsi com ataques às forças de segurança.


 
 

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