Nova pneumonia atípica infecta mais rápido as células, mas parece transmitir-se menos

Estudo mostra que novo coronavírus está bem adaptado às pessoas, mas Organização Mundial de Saúde diz que é menos transmissível do que vírus SARS que causou centenas de morte na China há uma década.

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O vírus da constipação pertence à mesma família do novo coronavírus (na imagem) Reuters/Health Protection Agency

O novo coronavírus que já infectou 12 pessoas na península Arábica e no Reino Unido, causando seis mortes, infecta mais rapidamente as células dos pulmões do que o vírus que causou a pneumonia atípica em 2002 e 2003, na China, e matou na altura perto de 774 pessoas, revela um estudo publicado na terça-feira na revista mBio, da Sociedade Americana para a Microbiologia.

O primeiro caso identificado do novo surto foi em Setembro de 2012, na Arábia Saudita. Entretanto, o número de casos confirmados subiu para 12: cinco na Arábia Saudita, dois na Jordânia, quatro no Reino Unido e um na Alemanha, de uma pessoa vinda do Qatar. Destes doentes, três morreram na Arábia Saudita, dois na Jordânia e um no Reino Unido, foi anunciado na terça-feira.

Os sintomas desta pneumonia atípica são febre, tosse, dificuldade de respirar e falta de ar. Os primeiros sintomas aparecem dez dias depois de se contrair a doença, de acordo com o que se sabe. O novo coronavírus faz parte da família dos coronavírus que incluem o vírus da constipação e o vírus da síndroma respiratória aguda (SARS),que provocou a epidemia de pneumonia atípica de 2002. Mas está mais próximo de um coronavírus encontrado nos morcegos, que são, para já, uma potencial fonte primária do novo surto.

Mas as descobertas feitas pela equipa do hospital do cantão suíço de St. Gallen revelam que o novo coronavírus está bem adaptado ao ser humano. Em apenas dois dias, o vírus consegue entrar no epitélio do pulmão e atingir o máximo da replicação. O SARS demorava quatro dias para fazer o mesmo. Apesar desta facilidade em entrar nas células humanas, não se sabe com que facilidade sai das células humanas e infecta outras pessoas.

Só na Inglaterra é que se encontram dados que suportam uma forte suspeita de ter havido transmissão entre seres humanos, adiantou na terça-feira à Reuters John Watson, responsável pelo departamento das doenças respiratórias da Agência de Protecção da Saúde, agência não-governamental do Reino Unido. As declarações foram feitas depois de se ter anunciado uma morte no Reino Unido. Segundo a BBC News, três pessoas da mesma família foram infectadas pela doença, uma delas tinha viajado pelo Médio Oriente e pelo Paquistão e terá passado o vírus ao filho e a outro familiar. Foi o filho que acabou por morrer no domingo. Este paciente tinha uma doença crónica e um sistema imunitário enfraquecido.

“Não sabemos se os casos que andamos a observar são a ponta do iceberg, ou se muitas outras pessoas estão infectadas sem mostrarem sintomas severos”, disse, em comunicado, Volker Thiel, líder da equipa de investigação.

Para já, o vírus não é considerado ameaçador. Ian Jones, professor de Virologia da Universidade de Reading, no Reino Unido, disse à Reuters que o novo coronavírus “não parece ameaçador”, mas pode vir a ter um potencial de se espalhar mais rapidamente, “mas não sem antes ter passado por várias mutações”.

Também a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que “o novo coronavírus não parece transmitir-se facilmente entre pessoas, enquanto o vírus SARS era muito mais transmissível”.

Apesar de não haver tratamento específico para o novo vírus, a OMS explica que os sintomas do vírus podem e devem ser tratados. Fora do corpo o coronavírus é muito frágil, só sobrevive 24 horas e é morto com detergentes ou com a maioria dos produtos de limpeza.

A Direcção-Geral da Saúde lançou na segunda-feira um comunicado sobre o novo coronavírus, com recomendações para a vigilância de potenciais casos. Para já, não foi identificado nenhum caso de infecção em Portugal. O comunicado explica ainda que “o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge está preparado para identificar o novo coronavírus” e, para já, diz não existirem recomendações internacionais para restrições de viagens e trocas comerciais.
 

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