Yair Lapid, o político que deu corpo ao descontentamento da classe média israelita

Habitação acessível e acabar com a isenção do serviço militar obrigatório de que beneficiam os ortodoxos são princípios do programa do político que ficou em segundo lugar nas legislativas egípcias. Netanyahu está a adaptar-se a algumas das suas reivindicações.

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Ninguém esperava o sucesso que teve o partido de Yair Lapid AHMAD GHARABLI/AFP

Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro cessante, deverá ser capaz de se manter no poder, negociando uma ampla coligação, mas é sobre este homem a quem as sondagens não davam mais do que 12 dos 120 assentos parlamentares que se concentram as atenções. Com os 19 deputados que o seu partido, Yesh Atid (“Há um futuro”), conseguiu eleger, está no centro de todas as discussões sobre a próxima coligação governamental.

Na noite eleitoral, enquanto Netanyahu, celebrando a sua frágil vitória, assegurava que o seu principal desafio continuava a ser a ameaça de um Irão nuclear, Lapid, com o seu brilhante segundo lugar, prometia “uma verdadeira mudança” aos seus apoiantes eufóricos em Telavive.

Netanyahu parece ter entendido a mensagem. Apelou já a uma união nacional em torno de três prioridades: “Uma maior igualdade, habitação a preços mais acessíveis e mudanças na forma de governar.” Promessas que se aproximam do que defende o programa do Yesh Atid.

Foi no ano passado que Yair Lapid, conhecida vedeta da televisão israelita, lançou o partido Yesh Atid, declarando-se defensor das classes médias – as que saíram às suas às centenas de milhares em 2011 para denunciar a escalada dos preços da habitação, e a falta de prédios para viver.

“Este é o partido da normalidade. Reunimos todas as partes integrantes da sociedade, com a esperança de mudar as coisas”, disse o rabi Shai Piron, o número 2 das listas.

Yair Lapid é natural de Telavive, a capital dos negócios, mas também de reputação hedonista. Mas nas listas deste partido que se define como centrista foram também eleitos um ultra-ortodoxo, uma mulher deficiente, um druzo, um trânsfuga do partido de esquerda Meretz, um ex-chefe do Shin Beth (serviços de segurança interna) e Mina Tamano, a primeira mulher de origem etíope a ser eleita para o Knesset (Parlamento).

A agitação social de 2011, que revelou o mal-estar das classes médias, embora a economia israelita esteja mais ou menos bem, “foi para além das mensagens no Facebook e influenciou não só as gerações mais jovens nas grandes cidades mas todos os outros grupos etários e sectores da sociedade”, avalia Nahum Barnéa, editorialista do jornal Yedioth Ahronoth. “O movimento de contestação foi o verdadeiro vencedor das eleições”, conclui.

“Não somos um partido sectorial, nem religioso, nem laico, mas antes um partido hebraico que tem como primeira missão fazer avançar uma repartição mais justa dos deveres cívicos”, explicou o rabi Piron. Com efeito, um dos principais objectivos do partido é fazer aprovar uma lei que ponha fim à isenção do serviço militar obrigatório das dezenas de milhares de estudantes ultra-ortodoxos – uma das reivindicações que se ouviam nas manifestações de 2011.
 
 

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