Soares admitiria um novo Governo sem eleições

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Questionado sobre o livro que José Sócrates vai lançar com o apoio da sua fundação, Soares elogiou o ex-primeiro-ministro Foto: Rafael Marchante/Reuters

O antigo Presidente da República, Mário Soares, considera que a demissão do actual Governo seria uma "prova de sensatez", mas entende que haver eleições agora "complicaria tudo e pode não resolver nada".

Numa entrevista ao Diário de Notícias, publicada neste domingo a propósito do novo livro –"Crónica de um Tempo Difícil" – que é lançado na segunda-feira, Soares afirma que mudou de opinião sobre Passo Coelho. "Tem sido uma decepção", diz, depois de frisar que "entre o que o Governo prometeu nas eleições, para as ganhar, e o que realmente tem feito, não há comparação possível". Passos é "um discípulo reverente" de Angela Merkel, a líder do Governo alemão, cuja política de austeridade é o oposto do que Soares defende para um equilíbrio económico e político na Europa.

"O actual Governo depende da troika (...). Parece não ter um sentido da pátria", prossegue o antigo líder do PS, que também teve de lidar com um resgate internacional quando na década de 1980 teve de pedir ajuda financeira numa altura em que era primeiro-ministro. Porém, entre o que se passou então e o que se passa agora há diferenças, argumenta, exemplificando com as vaias ao Governo, "um fenómeno que nunca aconteceu aos Governos desde o 25 de Abril".

Num cenário de demissão, que agradaria a Soares, terá de ser Cavaco Silva a decidir o que fazer. Um novo Governo de iniciativa presidencial "não seria inevitável", mas tudo dependeria da actuação do Presidente, vinca Soares. "É a quem compete a palavra seguinte." Garantido, para Soares é que a actual maioria parlamentar que permitiu formar um governo de coligação PSD-CDS não se repetiria se agora houvesse eleições legislativas. "Se o Governo fosse hoje a votos ficaria muito longe de ser maioria", assegura Soares.

"Acho que [o Governo] está um pouco desorientado e não tem estratégia", avalia Soares, assinalando que o executivo "tem contra ele a esmagadora maioria dos portugueses, de todas as condições sociais". Dizendo que não percebe "muito bem os discursos" do actual ministro das Finanças, Vítor Gaspar, Soares também não dá como garantido que a actual coligação governamental sobreviva à proposta de Orçamento do Estado de 2013, que acentuou divisões entre PSD e CDS. Este último não gostou do "enorme aumento de impostos" incluído por Vítor Gaspar. "Vejamos o que se passa", refere Soares, com prudência.

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