Vários jornais europeus reproduzem caricaturas polémicas de Maomé

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O "France Soir" sublinha que o dogma religioso não tem lugar numa sociedade secular Horacio Villalobos/EPA

Jornais de vários países europeus reproduziram nas suas edições de hoje as polémicas caricaturas do profeta Maomé, em solidariedade com o diário dinamarquês que publicou as pranchas na origem de uma onda de indignação entre os muçulmanos.

O alemão “Die Welt”, o italiano “La Stampa”, o espanhol “El Periódico” ou o “France Soir” foram alguns dos jornais que publicaram as polémicas imagens, sustentando que a liberdade de informação se deve sobrepor aos protestos e às ameaças de boicote

Em Berlim, o influente “Die Welt” publicou na primeira página uma caricatura do profeta, com um turbante em forma de bomba, o mais contestado "cartoon" da série. Em editorial, o diário sustenta que blasfémia é um direito no Ocidente e questiona-se sobre a capacidade do Islão para aceitar a ironia e a sátira. “Os protestos dos muçulmanos seriam tomados mais a sério se fossem menos hipócritas”, escreve o jornal.

Por seu lado, o “France Soir” explica que reproduz a totalidade das polémicas caricaturas por considerar que o “dogma religioso” não tem lugar numa sociedade secular.

Na primeira página, o jornal publica um outro “cartoon” representando os símbolos máximos do cristianismo, judaísmo, islamismo e budismo flutuando sobre uma nuvem. “Não te queixes Maomé, estamos todos caricaturados”, afirma o deus cristão, dirigindo-se a Maomé. Por baixo, o jornal escreve: “Sim, temos o direito a caricaturar Deus”.

O director da publicação, Serge Faubert, sublinha em editorial que os não-muçulmanos não devem ser obrigados a cumprir o preceito do Corão, que proíbe imagens de Maomé.

A publicação das imagens intensificou a polémica no país, com o presidente do Conselho Francês da Fé Muçulmana, Dalil Boubakeur, a denunciar a iniciativa do o “France Soir” como uma “verdadeira provocação contra os três milhões de muçulmanos que vivem no país”.

A polémica estalou em Setembro passado quando o diário “Jyllens-Posten” publicou doze caricaturas do Profeta Maomé, de imediato classificadas como blasfemas pela comunidade muçulmana no país, que se apressou a contestar nas ruas o que dizem ser insulto.

O caso acabou por gerar uma onda de indignação internacional, que aumenta a cada dia que passa, com manifestações que se estendem da Palestina ao Iémen. Vários dirigentes políticos e religiosos muçulmanos apelaram ao boicote aos produtos oriundos da Dinamarca, uma ameaça que agora se estende a outros países ocidentais.

Na segunda-feira, a direcção do “Jyllands-Posten” pediu desculpa pela eventual ofensa aos muçulmanos, mas fez questão de sublinhar que nada na legislação dinamarquesa a impede de publicar este tipo de “cartoons” – uma posiçção secundada pelo primeiro-ministro, Anders Fogh Rasmussen. Em resposta, a redacção do jornal teve ontem de ser evacuada na sequência de um alerta de bomba.

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) considera que a “liberdade de imprensa abrange também pontos de vista que podem chocar a maioria da população”.

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