Tsipras consegue vitória surpreendente e mantém coligação com Gregos Independentes

Partido de Alexis Tsipras perde apenas um ponto percentual em relação ao que teve nas últimas eleições, muito mais do que lhe davam as sondagens.

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Alexis Tsipras faz a festa com Panos Kamenos Reuters
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Uma vitória muito maior do que o esperado: o Syriza, de Alexis Tsipras, venceu as eleições antecipadas na Grécia com uma grande margem sobre o seu rival conservador, a Nova Democracia. E renovará a coligação com o que foi o seu parceiro nos primeiros sete meses, o partido nacionalista e populista Gregos Independentes, deitando por terra a ideia feita antes das eleições de que o Partido Socialista (Pasok) e o partido pró-europeu To Potami (O Rio) entrariam em qualquer coligação, qualquer que fosse o vencedor.

Quando estavam contados mais de 60% dos votos, o Syriza aparecia com 35,5%, com apenas uma ligeira descida em relação ao que tinha obtido em Janeiro, 36,3%. “Os mesmos gregos que votaram em Tsipras para lutar contra o memorando votam agora nele para o concretizar”, comentava o analista Dimitris Rapidis do centro Bridging Europe, com sede em Atenas. A Nova Democracia tinha 28%, praticamente o mesmo do que em Janeiro (27,8%).

Havia quem não estivesse especialmente optimista: “Se gostam de capacidade técnica e capacidade de concretização, não devem ficar impressionados com o aparente regresso da coligação Syriza-Gregos Independentes”, comentava no Twitter o jornalista Nick Malkoutzis.

Tsipras falou aos seus apoiantes na praça Klafthmonos, congratulando-se com a “vitória clara”, uma “vitória do povo”. Os gregos escolheram “livrar-se de tudo o que nos impede de avançar”, declarou, “de todo o velho sistema”. Este foi um dos seus temas principais de campanha: escolher o Syriza seria lutar contra os partidos ligados a nepotismo e corrupção, a Nova Democracia e Pasok.

“Agradeço a Panos Kammenos e continuamos juntos”, declarou, perante a subida ao palco do líder do partido populista. “A partir de amanhã começamos o trabalho para mudar as relações na Europa”, disse ainda Tsipras. De Espanha, Pablo Iglésias, do partido anti-austeridade Podemos, que esteve em Atenas em apoio a Tsipras, deu os seus parabéns através de tweet.

Aparentemente, as maiores mudanças que trouxeram estas eleições são a saída de figuras da ala esquerda do Syriza (uma parte substancial protagonizou uma cisão do partido quando Tsipras marcou eleições, invocando o desacordo com a assinatura do acordo para o empréstimo), já que o partido de Panagiotis Lafazanis não terá conseguido ultrapassar os 3% necessários para representação parlamentar (isto se os resultados provisórios, que dão ao partido 2,8%, se confirmarem – À hora do fecho desta edição era uma margem com espaço para uma surpresa quando surgir a votação final). Isto inclui a potencial saída do Parlamento de Zoe Konstantopoulou.

Tsipras demitiu-se em Agosto, provocando eleições antecipadas, depois de perder a maioria parlamentar com a revolta da facção mais à esquerda do Syriza, que se recusou a votar um terceiro acordo com os credores, quando uma proposta semelhante tinha sido recusada num referendo com mais de 60% dos votos. O partido ficou debilitado depois destas saídas – uma facção inteira, 28 deputados, quase a totalidade da sua ala jovem, metade do comité central.

De notar ainda uma subida ligeira do partido neonazi Aurora Dourada (7% agora contra 6,9% em Janeiro) que se mantém o terceiro mais votado, apesar do seu líder, Nikolaos Michaloliakos, ter admitido “responsabilidade política” pela morte de um activista de esquerda, e a entrada do partido União dos Centristas, de Vasilis Leventis, um político que há décadas tenta entrar no Parlamento sem sucesso e é visto como uma figura cómica (com 3,4%).

O partido de Tsipras terá 145 deputados entre os 300 do Parlamento, e junto com os Gregos Independentes terá 155, segundo projecções baseadas nos resultados parciais. É uma margem relativamente reduzida. Com as mudanças profundas e difíceis que é necessário fazer para aplicar os termos do terceiro empréstimo de 86 mil milhões de euros para os próximos três anos, esperava-se um governo mais alargado. Mas este seria difícil com interesses contraditórios e prováveis exigências, além de que o Syriza não se queria aliar com o Pasok, que representa o velho sistema contra quem se insurge, nem com o Potami, que vê como neoliberais e comprometidos com a oligarquia dos media.

Durante a campanha, pensava-se que o mais provável era que uma coligação incluísse o partido socialista (Pasok) e o partido pró-europeu To Potami (O Rio). O Pasok conseguiu um resultado melhor do que o que lhe davam as sondagens e do que nas últimas eleições (6,7% agora, apenas 4,7% em Janeiro) e o Potami pior (passou de 6,1% e quarto partido para sexto), com 3,9%, atrás do Partido Comunista, que obteve agora 5,4%, praticamente o mesmo do que na votação anterior, 5,5%.

Ontem, quando ainda apenas se sabiam as sondagens à boca das urnas, o Pasok sugeriu que a Nova Democracia deveria ser incluída em qualquer governo. O número dois de Tsipras, Nikos Papas, foi rápido a repetir o que disse durante a campanha: que o partido de esquerda não iria aliar-se de modo nenhum à Nova Democracia.

A primeira reacção aos resultados parciais veio do líder da Nova Democracia, Evangelos Meimarakis, reconhecendo a derrota e dando os parabéns a Tsipras. “Parece que os cidadãos não mudaram de ideias”, disse. Na campanha, Meimarakis tinha pedido “estabilidade” e “o fim das experiências”.

Tsipras fez uma declaração pelo Twitter: “O caminho está aberto perante nós para trabalho e luta”. Fontes do Syriza prometiam um governo dentro do prazo de três dias que a Constituição dá ao vencedor.

De seguida, Kammenos declarava: “Amanhã de manhã com o primeiro-ministro Tsipras vamos sair das políticas de austeridade”. Kammenos prometeu ainda a luta contra a corrupção e mandou uma farpa às empresas de sondagens, especialmente à Universidade da Macedónia que deu ao seu partido 1,7%.

Da Europa, o presidente francês, François Hollande, foi rápido a dizer que o resultado era uma vitória para a estabilidade na Europa, segundo a agência Reuters. Numa viagem a Marrocos, Hollande também disse que poderia visitar rapidamente a Grécia, que “vai ter agora um período de estabilidade com uma maioria sólida”.

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