Tsipras diz que Grécia pode ter acordo com credores até ao fim da próxima semana

Primeiro-ministro grego levanta hipótese de referendo mas não de eleições antecipadas em caso de falhanço das negociações.

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Alexis Tsipras acha que a Grécia está perto de um acordo Francois Lenoir/Reuters

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, acha que poderá haver um acordo de princípio entre a Grécia e os seus credores ainda esta semana, ou na próxima, para assegurar financiamento de curto prazo para o país, quando as negociações entram na recta final.

“Penso que se ninguém quiser torpedear [as conversações] estamos próximos de um pacote aceitável”, declarou Tsipras, numa grande entrevista televisiva na segunda-feira à noite (terminou já bem depois da uma da manhã) na estação de televisão grega Star, em que foi questionado exaustivamente sobre o estado das negociações.

A data indicada por Tsipras significaria um acordo antes de 9 de Maio, a data-limite para o pagamento de 750 milhões de euros ao FMI (antes, Atenas ainda tem que pagar outra prestação, de 200 milhões, também ao FMI).

A entrevista de Tsipras foi dada após a notícia da remodelação da equipa encarregada pelas negociações, vista como um afastamento do ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, da liderança destas conversações. Tsipras garantiu que o Governo apoia Varoufakis, que foi “sistematicamente atacado pela imprensa internacional”, e que é uma mais-valia para o Executivo, “porque fala a linguagem [dos credores] melhor do que eles”. O primeiro-ministro reconheceu uma “atmosfera negativa” nas negociações, o que, considerou, não é algo fora do normal neste “jogo”.

A notícia da remodelação da equipa negocial foi bem acolhida pelos mercados, e uma porta-voz da Comissão Europeia deu conta de uma aceleração das negociações. “Os contactos intensificaram-se e tem havido progressos”, disse num briefing a porta-voz Annika Breidthardt, citada pela Reuters. “As conversações estão a ser mais produtivas.”

O Executivo anunciou ainda que vai levar ao Parlamento uma série de medidas de reforma de questões fiscais, administração fiscal, concurso de frequências para canais de televisão, tributação de anúncios televisivos, e reforma administrativa”. Fontes anónimas que têm comentado as negociações dizem que o clima de desconfiança é tão grande que os credores só deveriam libertar as verbas depois de ver certas medidas aprovadas no Parlamento.  

Tsipras sublinhou que o seu Governo fez já várias concessões aos credores, como a privatização parcial do porto de Pireu e concessões de 14 aeroportos regionais. Caso as concessões anunciadas não cheguem, não põe a hipótese de eleições antecipadas, mas não exclui um referendo: “Se a solução cair fora do nosso mandato, não teremos o direito de o violar, por isso a solução que teremos de chegar tem de ser aprovada pelo povo grego”, disse. “Mas estou certo de que não chegaremos a esse ponto. Apesar das dificuldades, as possibilidades de vencer nas negociações são grandes. Não devemos ceder ao pânico. Quem ficar assustado neste jogo perde.”

Admitiu erros, um dos quais foi transformado numa crítica – ter acreditado que o BCE não tomaria a medida de deixar de aceitar dívida grega como colateral cortando assim o financiamento de curto prazo a Atenas, uma decisão de Mario Draghi que Tsipras classificou como “politica e eticamente pouco ortodoxa” que “estrangulou” o país, deixando-o com dificuldades em cumprir os compromissos (várias prestações ao FMI, ao BCE, e ainda o pagamento dos salários e pensões) enquanto decorrem as negociações para a entrega da última tranche do empréstimo (7,2 mil milhões de euros).

Numa altura em que foi muito comentado o afastamento de Varoufakis, Angela Merkel e Tsipras combinaram falar mais vezes directamente nesta recta final das conversações. Na entrevista, Tsipras guardou um elogio para a chanceler alemã, que “está disposta a encontrar uma solução para a Grécia”. “Agora que conheci a sra. Merkel, percebo que não é coincidência que seja líder há tanto tempo.”

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