Governo grego remodela equipa de negociações tirando poder a Varoufakis

Sondagens mostram que mais gregos querem um acordo com os credores mesmo que isso implique cedências.

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Yanis Varoufakis com o ministro checo das Finanças, Andrej Babis, após a reunião do Eurogrupo em que esteve sob fogo dos seus homólogos Ints Kalnins/Reuters

Depois de meses de negociações em que apesar de os prazos irem sendo dilatados não há cedências do lado dos credores, o Governo grego decidiu mudar a sua equipa de negociação, numa decisão que foi vista como querendo retirar protagonismo e poder ao ministro das Finanças, Yanis Varoufakis.

Depois de uma reunião do Eurogrupo em que a Grécia foi duramente criticada pelos outros governos por não entregar planos de reforma detalhados em que seja evidente a poupança orçamental, e em que Varoufakis esteve directamente sob fogo dos outros ministros, Atenas anunciou que a coordenação das negociações será entregue ao número dois do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Euclid Tsakalotos, um economista doutorado pela Universidade de Oxford.

O papel de Varoufakis será supervisionar esta equipa de negociação política liderada por Tsakalotos, diz o Governo de Alexis Tsipras – negando, no entanto, que se trate de uma despromoção do ministro. O executivo apoia Varoufakis “face aos ataques internacionais”, garantiu o porta-voz Gabriel Sakellaridis.

Segundo descrições da reunião do Eurogrupo baseadas em fontes anónimas, Varoufakis foi alvo de ataques dos seus homólogos também pela estratégia negocial da Grécia. Intervenientes no encontro não negaram este ambiente: na conferência de imprensa que se seguiu à reunião da passada sexta-feira, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, foi questionado sobre um ataque a Varoufakis por parte dos seus colegas e respondeu: “Tenho de ser franco, foi uma discussão muito crítica.”

“O ódio de todos”
No Twitter, no dia seguinte, Varoufakis parecia confirmar este ambiente, postando uma citação de Roosevelt: “Eles são unânimes no seu ódio por mim, e eu aprecio esse ódio.” Um jornalista grego não demorou a responder-lhe que, sendo assim, se deveria demitir: “Pode apreciar esse ódio, mas o país não se pode dar a esse luxo.”

Uma sondagem publicada no fim-de-semana mostra que o apoio à estratégia do Governo Tsipras está a descer. Mais de metade dos inquiridos numa sondagem Alco no semanário Proto Thema diz que o Governo deve ceder, mesmo se os credores rejeitarem as suas reivindicações. Se um acordo falhar, 50% defendem cedências e 36% uma ruptura. Na sondagem, 63% diziam-se ainda preocupados com um incumprimento (32% não) e 48% com uma saída da Grécia do euro (45% não).

No seu blogue, antes da reunião do Eurogrupo de sexta-feira, Varoufakis anunciou compromissos quanto às reformas (aceitando suspender as reformas antecipadas) e às privatizações (admitindo vendas parciais), mas garantiu que não era possível cortar mais nos valores das pensões e dos salários.

A acção de alterar a equipa de negociações “faz a quadratura do círculo, porque não parece que Tsipras se renda despedindo Varoufakis, mas de algum modo tem o mesmo resultado”, comentou Michael Michaelides, do Royal Bank of Scotland Group, à Bloomberg.

“A equipa negocial perdeu muito tempo precioso e perdeu muitos dos seus amigos no estrangeiro”, declarou George Pagoulatos, professor de Política e Economia Europeia da Universidade de Atenas, também à Bloomberg. “Era preciso uma remodelação urgente, com uma equipa que tenha maior credibilidade aos olhos dos parceiros.” Segundo relatos nos media gregos, o novo responsável, Euclid Tsakalotos, poderá ter essa credibilidade.

Tsakalotos já liderava o grupo de trabalho dos responsáveis dos ministérios das Finanças da zona euro, e agora será responsável também pelo chamado "grupo de Bruxelas" de responsáveis técnicos. Um dos responsáveis próximos de Varoufakis foi afastado e ficará encarregado de um plano a longo prazo e não das negociações actuais.

As questões de fundo poderão manter-se, fazem notar alguns jornalistas, mas a mudança assinala uma alteração de posição grega que faz muitos acreditarem que agora um compromisso será mais provável.

Bolsa “quase eufórica”
A reacção dos mercados ao anúncio da nova equipa foi positiva (“quase eufórica”, diz a Bloomberg), com a Bolsa de Atenas a subir. As negociações deverão recomeçar com uma teleconferência já esta segunda-feira e um encontro na quarta-feira para apressar o processo, segundo um responsável grego.

 Antes, um porta-voz do Ministério das Finanças alemão disse, mais uma vez, que o Governo de Berlim está “frustrado” com o facto de Atenas não enviar propostas. “Estamos à espera há semanas”, declarou. “É frustrante, mas somos pacientes”, acrescentou, adiantando que espera as propostas gregas para a próxima reunião do Eurogrupo de dia 11 de Maio.

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