Terroristas de Tunes foram treinados pelo Estado Islâmico na Líbia

Yassine Labidi e Hatem Khachnaoui, os dois terroristas que mataram 22 pessoas no Museu Bardo, foram mortos pela polícia.

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A segurança foi reforçada em Tunes FETHI BELAID/AFP

Foi em campos do Estado Islâmico na Líbia que os terroristas tunisinos que mataram 22 pessoas em Tunes na quarta-feira, em nome do Estado islámico, receberam treino militar. Os dois homens, disse o secretário de Estado da Segurança, Rafik Chelly, saíram clandestinamente da Tunísia e regressaram em Dezembro do ano passado.

Chelly admitiu que há, no país, varias células jihadistas adormecidas, formadas por antigos combatentes e prontas para entrarem em acção, realizando atentados. Yassine Labidi e Hatem Khachnaoui, os dois terroristas que foram mortos pela polícia, explicou, fariam parte de uma dessas células.

 “Sabemos que eles podem realizar operações a qualquer momento, mas temos que reunir provas para podermos realizar detenções”, disse o secretário de Estado, adiantando que estão identificados vários campos de treino do Estado Islâmico na Líbia para onde são levados jovens combatentes tunisinos. Há um em Bangazi, disse, e outro na cidade costeira de Derna, uma praça forte jihadista na Líbia.

Yassine Labidi e Hatem Khachnaoui, armados com metralhadoras kalashnikov, dispararam contra turistas que chegavam, em camionetas, ao Museu Bardo de Tunes, onde está reunida uma das mais importantes colecções de mosaicos da Antiguidade.

Na quarta e na quinta-feira as autoridades debateram se o museu era o verdadeiro alvo do ataque, uma vez que este fica muito perto do Parlamento, em cujo perímetro também foram feitos disparos. A gravação áudio em que o Estado Islâmico reivindica a autoria do ataque esclarece que o alvo foi sempre o Bardo e os turistas estrangeiros.

Nos territórios que controla na Síria e no Iraque, o Estado Islâmico também declarou guerra ao património, destruindo cidades milenares – e vendendo artefactos para se financiar – com o argumento de que são vestigios de um tempo em que se idolatravam ídolos, o que foi proibido pelo profeta Maomé.

A voz que fala na gravação chama ao museu “um antro de infiéis e de vício” e avisa que este ataque foi “uma primeira gota de chuva” – uma ameaça de que outras se seguirão.

Após o atentado, e quando não se sabia ainda as motivações ou filiação dos atiradores, responsáveis políticos tunisinos falaram no perigo de o EI se infiltrar na Tunísia. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Taieb Baccouche , disse que o caos líbio é uma constante ameaça à Tunísia.

Apesar de a Tunísia ser considerada um caso de sucesso das chamadas “Primaveras Árabes” – com a classe política a comprometer-se com a transição para a democracia e os  partidos islamistas a manterem uma postura moderada –, o movimento jihadista existe no país e, na região, é da Tunísia que partem mais jovens para combater nas fileiras do EI. A maior parte deles passa ilegalmente a fronteira da Tunísia com a Líbia, recebem treino e são depois enviados para o Iraque ou Síria.

A entrada do Estado Islâmico na Líbia foi rápida e beneficiou da diluição das instituições  após a queda de Muammar Khadafi, em 2011, na sequência de uma guerra civil que só terminou com a intervenção, a favor da oposição ao regime, de uma coligação ocidental que realizou raides aéreos contra as posições do antigo ditador. As milícias armadas não foram desmanteladas e constituíram-se como grupos de poder regionais, com interesses e ideologias distintas, lutando entre si. A cúpula política também não se soube unir e, neste momento, dois grupos distintos reivindicam o papel de governo legítimo da Líbia. A influência do Estado Islâmico cresce e são cada vez mais os tunisinos que atravessam a fronteira, para se juntar ao grupo.

Yassine Labidi e Hatem Khachnaoui fizeram esse caminho e, em Dezembro, fizeram o caminho inverso. A irmã de Khachnaoui – que foi detida na sua casa perto da fronteira com a Argélia, onde a actividade jihadista é cada vez maior e são vários os grupos activos (militantes da chamada brigada Uqba ibn Nafi, ligada à Al-Qaeda no Magrebe Islâmico, investem regularmente contra militares e polícias), é uma das nove pessoas detidas após o atentado por suspeita de cumplicidade – disse à polícia que o irmão terá estado a combater no Iraque.

O Presidente tunisino, Beji Essebsi, que anunciou que o país está "em guerra contra o terrorismo", disse que uma das batalhas mais importantes é o reforço efectivo das fronteiras com a Líbia e também com a Argélia.

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