Sobe para 39 o número de mortos em tempestade nos Himalaias

O primeiro-ministro nepalês, Sushil Koirala, anunciou que vai lançar um novo sistema nacional de alerta.

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"As pessoas foram levadas até à morte desnecessariamente"

O saldo da tempestade de neve que apanhou de surpresa alpinistas num circuito popular de trekking no Nepal já vai em 39 mortos. Este sábado, nove corpos foram avistados por um helicóptero que participava nas buscas nos Himalaias.

“Não conseguimos retirar os corpos devido às más condições meteorológicas e à forte neve. Confirmamos que o número de mortos é 39”, afirmou Govinda Pathak, chefe da polícia do distrito de Mustang. Outras 60 pessoas foram resgatadas do trilho de Annapurna, um circuito popular entre turistas que visitam a décima montanha mais alta do mundo, aumentando o número de sobreviventes para 371. Dezenas de pessoas estão ainda desaparecidas. 

No terreno esteve este sábado o maior dispositivo de buscas desde o incidente – uma tempestade de neve que atingiu um ponto a 4500 metros de altitude no circuito do Annapurna no início da semana – com 12 helicópteros a vasculhar locais de outro modo inacessíveis e também soldados mobilizados em diferentes direcções no circuito de 240 km.

Entre os mortos estão cidadãos nepaleses, canadianos, polacos, eslovacos, indianos e israelitas, segundo a Reuters. O mau tempo que se tem feito sentir no Nepal – um das piores sistuações dos últimos anos na região – terá sido um efeito do ciclone Hudhud na Índia. Esta é habitualmente uma época com bom tempo na região e por isso atractiva para as expedições de alpinistas.

Thorong La, o ponto mais alto no trilho do Annapurna, situa-se a 5416 metros de altitude mas nem por isso requer um elevado grau de experiência de montanhismo ou esforço. Os relatos dos sobreviventes apontam antes para a falta de preparação para as condições climatéricas que encontraram ao longo da subida.

“Os guias tinham apenas ténis e não tinham nem roupa quente, nem luvas, nem chapéus, e usaram sacos de plástico para se proteger. Achei isso absolutamente ridículo. Não estava certo", contou Paul Sherridan, um cidadão britânico que sobreviveu à tempestade. Sherridan diz que foram “conduzidos à morte”.

"Falei com os guias, que sabia serem de empresas credíveis, e questionei a nossa subida à montanha. Asseguraram-me que assim que  o sol aparecesse tudo ficaria bem. Com muitas dúvidas acabei por me juntar ao grupo que subiu em direcção à tragédia que acabou por obviamente acontecer”, relatou.  

“Os guias estavam a levar as pessoas para zonas onde o céu estava tão escuro como o chão e à medida que a neve batia nos nossos olhos não conseguíamos ver nada, nem onde estávamos. E o nevão apagava as pegadas. Por isso quem fosse mais lento e não conseguisse acompanhar quem ia à sua frente desapareceu", explicou o britânico.

Quatro guias nepaleses foram arrastados por uma avalanche, relatou Horst Ulrich, um alemão de 72 anos que participava com um grupo de amigos na sua quarta viagem ao Nepal. “Estávamos num local perigoso e ficámos chocados com as condições que encontrámos. Tivemos sorte”, afirmou à Reuters.

Munchang Lama, um guia de duas mulheres israelitas, foi apanhado no momento em que montava uma tenda. “De repente começou a chover e abriguei-me entre duas pedras. Lama foi resgatado esta sexta-feira, com ferimentos ligeiros. 
“Na manhã seguinte não conseguia andar porque a minha perna estava presa na neve”, contou. O guia conseguiu manter as forças recorrendo a nozes, chocolates e uma banana que encontrou dentro dos sacos das mulheres que acompanhava. “Mantiveram-me vivo durante 48 horas”, relatou, acrescentando que não sabe o que aconteceu às mulheres israelitas. 

O vice-presidente da associação das agências de trekking do Nepal, Keshav Pandey, denunciou entretanto a falta de mecanismos de alerta que possam antecipar alterações meteorológicas repentinas. “Não esperávamos este tipo de tempestade em Outubro, mas de qualquer maneira não tínhamos nenhum sistema que nos preparasse para o que aí vinha”, explicou. O Governo admitiu que falhou e o primeiro-ministro nepalês, Sushil Koirala, anunciou que vai lançar um novo sistema nacional de alerta. 

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