Senador John McCain pede demissão do director da NSA

"Se acreditam que o sr. Snowden não passou informação aos russos, então acreditam que os porcos conseguem voar", afirma o experiente político norte-americano.

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John McCain defende a vigilância em larga escala, mas condena as escutas a Angela Merkel Brendan SMIALOWSKI/AFP

O senador John McCain afirma que o director da Agência de Segurança Nacional (NSA) deve ser despedido por não ter evitado as revelações sobre os programas de espionagem. E não tem dúvidas sobre quem fica a ganhar: "Se acreditam que o sr. Snowden não passou informação aos russos, então acreditam que os porcos conseguem voar."

Numa entrevista à revista alemã Der Spiegel, o senador do Partido Republicano responsabiliza a liderança dos serviços secretos pelo facto de Edward Snowden ter conseguido obter informações sobre os programas de vigilância da NSA e expô-los.

Os primeiros a cair, defende o senador, deveriam ser os responsáveis pela agência, em especial o director, o general Keith Alexander. "É claro que sim. Eles deviam demitir-se ou ser demitidos. Em Washington já não responsabilizamos ninguém. O comandante dos marines despediu dois generais por causa de uma falha de segurança numa base no Afeganistão. Digam-me quem é que foi despedido nesta cidade por causa de alguma coisa que correu mal."

Para além da responsabilização de Keith Alexander – cuja saída da liderança da NSA está agendada para Março de 2014 –, o senador John McCain defende que o Presidente dos EUA, Barack Obama, devia ter pedido desculpas à chanceler alemã, Angela Merkel, que teve o seu telefone escutado durante mais de uma década, entre 2002 e 2013.

"Sabendo quão furiosa estava Angela Merkel, ele devia ter pedido desculpas. Já tive de fazer isso várias vezes ao longo da minha vida. A dor não demora muito tempo a passar", ironizou.

Para John McCain, a questão não é tanto a espionagem em si, mas o facto de terem sido ultrapassados "alguns limites".

"Os amigos espiam amigos. Todos sabemos isso, mas antes havia alguns limites. Até certo ponto, esses limites existiam porque nós não tínhamos as capacidades [de espionagem] que temos agora. Mas quando chegamos ao ponto de invadir a privacidade de alguém que é líder da Europa, senão mesmo um dos principais líderes do mundo, Angela Merkel, então temos de admitir que foi um erro."

Viragem do 11 de Setembro

Segundo o senador do Partido Republicano, os limites à espionagem começaram a ser ultrapassados no dia 11 de Setembro de 2001. Mas esses limites, ainda de acordo com John McCain, não incluem a vigilância em larga escala de milhões de cidadãos em todo o mundo.

"Acho que sem o 11 de Setembro não estaríamos a ter algumas destas discussões. Sabemos que se tivéssemos detectado um telefonema do estrangeiro para alguém em San Diego, talvez tivéssemos conseguido impedir o 11 de Setembro. Há métodos de escuta que não só são legítimos como também são importantes para a segurança desta nação, e incluem a monitorização de chamadas telefónicas feitas a partir do estrangeiro. Mas, repito, isso é diferente de escutar o telemóvel da chanceler da República Federal da Alemanha", salienta o senador norte-americano.

Os atentados terroristas contra o World Trade Center e o Pentágono marcaram uma viragem que, segundo John McCain, é também a explicação para o facto de o analista informático Edward Snowden ter conseguido revelar os programas de espionagem dos EUA.

"Agora temos um funcionário subcontratado – e não um funcionário do Governo – com acesso a informação que, a ser revelada, pode prejudicar o prestígio dos Estados Unidos e as nossas relações com alguns dos nossos melhores amigos. Por que é que Edward Snowden tinha essa informação? E o que estamos a fazer para avaliar as pessoas que têm acesso a essa informação? É escandaloso, e alguém deveria ser responsabilizado", defende o senador.

Quanto à situação de Edward Snowden, John McCain considera que o analista informático vai ficar na Rússia durante muito tempo e não acredita que Angela Merkel lhe conceda asilo.  "Ela nunca irá admitir uma coisa dessas. Somos muito bons amigos."

"O Presidente Vladimir Putin vai conceder-lhe asilo indefinidamente. Os russos sabem que se o extraditassem isso iria servir de lição a outras pessoas que estejam a pensar em desertar. Tenho a certeza de que o sr. Snowden lhes disse tudo o que sabe", afirma John McCain.

Confrontado com o facto de o analista informático ter garantido que não passou documentos à Rússia, o senador do Partido Republicano remata com uma imagem que lhe é muito cara: "Se acreditam que o sr. Snowden não passou informação aos russos, então acreditam que os porcos conseguem voar."

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