Se Espanha passa fome, os sindicalistas furtam comida nos supermercados

Acampamento em Osuna, onde estão membros do movimento de desobediência civil
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Acampamento em Osuna, onde estão membros do movimento de desobediência civil Foto: Jon Nazca/Reuters
Juan Manuel Sanchez Gordillo, lautarca de Marinaleda e deputado da Esquerda Unida
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Juan Manuel Sanchez Gordillo, lautarca de Marinaleda e deputado da Esquerda Unida Foto: Jon Nazca/Reuters
Membros do sindicato, com Gordillo ao telemóvel
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Membros do sindicato, com Gordillo ao telemóvel Foto: Cristina Quicler/AFP

Trata-se de um acto simbólico que traduz o estado de desespero que se vive no país vizinho. Numa altura em que Espanha - à semelhança de Portugal - atravessa uma grave crise financeira, alguns membros de um sindicato de trabalhadores da Andaluzia resolveram enfrentar o problema da fome desta maneira: entraram em dois supermercados, trouxeram o que faz falta e, no final, saíram sem pagar.

Os protagonistas desta história são membros do Sindicato Andaluz de Trabalhadores (SAT), o braço sindical do partido Colectivo de Unidade dos Trabalhadores (CUT), liderado por Juan Manuel Sánchez Gordillo, que aparentemente - de acordo com os media espanhóis - está a dirigir estas operações de desobediência civil.

Tudo se passou na terça-feira, quando dois grupos do SAT entraram em dois supermercados diferentes - um em Écija (Sevilha) e outro em Arcos de la Frontera (Cádiz) - e trouxeram alimentos sem pagar a conta.

O primeiro grupo, do qual faziam parte cerca de 30 pessoas, carregou dez carros de supermercado com legumes, açúcar, leite e azeite e saiu porta fora. Os funcionários do supermercado ainda tentaram impedir o acto, mas em vão.

Juan Manuel Sánchez Gordillo não participou na acção, mas manteve-se no exterior do supermercado, de megafone na mão, a dirigir as operações.

Posteriormente a comida foi distribuída por bairros de Sevilha. O restante foi entregue ao Banco Alimentar, que acabou por se recusar a ficar com os alimentos uma vez que estes foram obtidos de forma “irregular”, descreve o El País.

O supermercado em questão, da cadeia Mercadona, irá apresentar queixa por “agressão e roubo”.

No mesmo dia, terça-feira, e à mesma hora, um segundo grupo do SAT liderado pelo secretário-geral do sindicato, Diego Cañamero, entrou num Carrefour de Arcos de la Frontera. “Nem chocolates, nem iogurtes, nem sobremesas. Bolachas normais, tipo as Maria”, disse o líder sindical aos seus associados antes de estes levarem a cabo a acção.

Desta vez, porém, o furto acabou por não acontecer. Diego Cañamero conseguiu negociar com os responsáveis do supermercado, que optou por doar 12 carros com alimentos aos serviços sociais da região.

Estas acções de desobediência civil, numa altura em que Espanha vive o drama do desemprego e da fome, acabaram por suscitar uma série de reacções - pró e contra - nas redes sociais e também no Partido Esquerda Unida (IU, na sigla em espanhol).

O vice-presidente da Junta da Andaluzia e coordenador-geral da IU, Diego Valderas, assegurou que tudo não passou de um “acto simbólico” no qual a Esquerda Unida não teve qualquer participação. Diego Valderas aproveitou ainda para negar que irá abrir processos disciplinares contra Juan Manuel Sánchez Gordillo ou Diego Cañamero.

Por seu lado, o líder nacional da Esquerda Unida, Gaspar Llamazares, já fez saber que apoia esta acção. “Foi um acto simbólico”, disse.

Por outro lado, o governo de direita já fez saber que estas acções não vão passar incólumes. De acordo com o El País, o ministro da Justiça pediu ao Ministério Público que investigue o sucedido, ao passo que o ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, ordenou que se identifiquem os participantes nestas acções, que estes sejam detidos e levados perante a Justiça.

Entretanto soube-se que a polícia nacional deteve, na noite passada, dois suspeitos de terem participado nestes actos.

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