Rocinha: A cidade dentro da cidade maravilhosa

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Apesar de a maior parte da comunidade da Rocinha viver na pobreza, a favela tem moradores de classe média alta Reuters

Com uma área de 95 hectares, mais de 100 mil habitantes e uma população relativamente jovem, divisões económicas como em qualquer grande cidade e mais de cinco mil empresas instaladas, é este o retrato geral da maior favela brasileira traçado a partir dos dados recolhidos pelos Censos 2009. A Rocinha é uma cidade dentro da grande cidade que é o Rio de Janeiro.

Segundo os dados analisados pelo “O Globo” do Censo das Favelas, realizado pelo Governo em 2009 para o mapeamento e identificação do perfil da comunidade destes bairros no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a população da Rocinha está distribuída por 38 mil imóveis e subdividida em mais de 30 bairros, apresentando desigualdades sociais como em qualquer grande cidade.

Apontam os números recolhidos para a existência de zonas ricas (Bairro Barcelos, Cidade Nova e Rua 2), cujos moradores se podem equiparar aos residentes do famoso bairro do Leblon onde se podem encontrar muitas das grandes estrelas brasileiras. Mas embora existam famílias na Rocinha com altos rendimentos, normalmente provenientes do aluguer de imóveis no bairro, a maior parte da comunidade vive no limiar na pobreza, em barracas construídas com madeira e materiais da sucata.

“Eu tenho amigos na Rocinha que com o seu próprio esforço e suor prosperaram, trabalharam, investiram e construíram edifícios e hoje com alugueis mantêm um patamar de vida de uma classe média alta que muitas vezes mora no Leblon. E isso é surpreendente”, disse ao “O Globo” o urbanista Marat Troina, da equipa que elaborou o PAC.

Ao que os dados indicam, 61,6% dos moradores vivem em imóveis próprios e apenas 34,4% da população vive em moradias alugadas. Mas a Rocinha apresenta ainda uma característica muito própria e distintiva das outras favelas: a maior parte das famílias vive em imóveis com mais do que uma assoalhada, o que não acontece noutros locais.

Marat Troina explicou que nos últimos anos o Programa de Aceleração do Crescimento implementou na favela visíveis melhorias com impacto directo no crescimento e desenvolvimento da população, com a instalação de novas unidades habitacionais, a construção de creches e espaços infantis, postos médicos e complexos desportivos assim como a abertura ao trânsito de ruas antes fechadas.

O resultado destas melhorias é o crescimento constante da população que, segundo os dados divulgados, apontam para 101 mil habitantes, tratando-se de uma comunidade jovem, onde 11,6% têm entre 25 e 29 anos, 10,9% entre 20 e 24 e apenas 1,4% têm 65 e 69 anos e 0,7% entre 75 e 79 anos.

Mas para o urbanista há ainda muito trabalho para desenvolver na Rocinha, destacando os problemas de saneamento e abastecimento de águas. Ao “O Globo”, Marat Troina lembrando ainda que existem muitas famílias que não têm acesso a estas utilidades básicas.

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