Apelos a mais segurança após morte de operador de câmara em manifestação no Rio

Será a morte de Santiago Andrade um ponto de viragem nos protestos violentos, com uso de projécteis como fogo-de-artifício, destruição de bancos ou incêndio de autocarros?

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O momento em que o operador de câmara Santiago Andrade foi atingido por um projéctil Domingos Peixoto/AFP

Santiago Andrade, 49 anos, foi atingido por um projéctil de fogo-de-artifício numa manifestação contra o aumento do preço dos bilhetes de autocarro no Rio de Janeiro na semana passada. A morte do câmara da TV Bandeirantes foi anunciada nesta segunda-feira, levando a uma série de apelos a mais segurança.

Já houve antes vítimas mortais da violência nos protestos – segundo o jornal Globo, sete pessoas morreram, na maioria atropeladas por motoristas irados por estradas cortadas pelos manifestantes. Santiago Andrade foi a primeira vítima da violência dos manifestantes. E numa altura em que o Brasil se prepara para receber, em Junho, o Mundial de Futebol, com as manifestações, que começaram em Junho do ano passado, e se têm vindo a tornar mais pequenas mas mais violentas, começam a levantar-se vozes cada vez mais fortes a dizer que é preciso fazer algo.

“Não é admissível que os protestos democráticos sejam desvirtuados por quem não tem respeito por vidas humanas”, reagiu a Presidente brasileira, numa série de declarações no Twitter. Dilma Rousseff disse ainda que a liberdade de manifestação não pode ser invocada para “matar, ferir, agredir e ameaçar vidas humanas, nem depredar património público. <_o3a_p> A Presidente disse ainda que o caso, em que já há dois suspeitos identificados – um suspeito de passar o projéctil a outro, suspeito de o ter lançado –, será investigado pela Polícia Federal.<_o3a_p>

A reacção mais forte de organismos de jornalistas veio da Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos (Arfoc), que disse que os black blocs (grupo anarquista que tem protagonizado acções violentas) são simplesmente “criminosos, agora assassinos”: “Nós, jornalistas de imagem, exigimos que as autoridades de segurança do estado do Rio de Janeiro instaurem, imediatamente, uma investigação criminal para apurar quem defende, financia e dá apoio jurídico a esse grupo de criminosos, hoje assassinos, intitulados black blocs, que agridem e matam jornalistas e praticam uma série de actos de vandalismo contra o património público e privado.”  <_o3a_p>

Depois desta morte, diz o diário espanhol El País, espera-se que seja aprovada mais rapidamente a lei antiterrorismo – no entanto, o seu promotor, o senador Romero Jucá (Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB), declarou que, na sua opinião, esta lei não se aplicaria no caso da morte de Andrade, que considera um homicídio, nem aos danos provocados nas manifestações: “Uma coisa é fazer uma passeata e quebrar um ponto de ônibus, por exemplo. Isso é dano ao património público e não se enquadra como terrorismo no meu projecto de lei.” Este define o crime de terrorismo como “acto de provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa à integridade física, à saúde ou à liberdade da pessoa”, com uma pena de 15 a 30 anos de prisão.<_o3a_p>

Já o secretário da Segurança, José Mariano Beltrame, lembrou um projecto de lei para tipificar o crime de associação para incitamento ou prática de violência que está a ser analisado há três meses pelo Ministério da Justiça. Se tivesse sido aprovado, disse, já não seria possível usar máscaras durante os protestos, nem ser portador de armas ou objectos que possam causar lesão. No caso do operador de câmara morto, o ferimento foi causado por um fogo-de-artifício, vendido livremente.

Manifestantes defendem destruição
O uso de fogo-de-artifício pelos manifestantes nos confrontos com a polícia é cada vez mais frequente, assim como a destruição de bancos ou incêndios de autocarros. Alguns manifestantes acham estas práticas legítimas: "Não é vandalismo", defendeu Vítor Rocha, um manifestante de 22 anos, ao jornal norte-americano Wall Street Journal. "São actos de repressão contra o capital."

Ainda no caso concreto da morte de Andrade, o secretário da Segurança disse que se o projecto de lei antiprotestos violentos já tivesse sido aprovado, o primeiro suspeito agora detido, o tatuador Fábio Raposo, acusado de ter o fogo-de-artifício (que terá passado a um segundo suspeito, entretanto também detido), poderia não ter estado em liberdade, mas sim preso, ou a responder a um inquérito judicial por distúrbios noutras ocasiões. “Temos prendido muita gente, foram cerca de 50 na última quinta-feira, mas todos foram soltos”, queixou-se. Com base nos serviços de informação, adiantou Beltrame, espera-se mais violência nas manifestações de Março.<_o3a_p>

João Trajano, professor de Ciência Política na Universidade do Rio de Janeiro, aponta falhas no trabalho da polícia. "Se tivéssemos serviços de informação competentes, muitas destas pessoas já teriam sido identificadas, porque já houve tantos confrontos", comenta em declarações ao Wall Street Journal. "Eles estão nas redes sociais, estão a comunicar. O mais importante é identificar estas pessoas e impedi-las de ir a manifestações." <_o3a_p>

A família de Santiago Andrade, que anunciou pouco depois do anúncio da morte cerebral do operador de câmara que iria permitir a doação dos seus órgãos, veio pedir que esta morte sirva para que não volte a acontecer nada de semelhante. A mulher, Arlita Andrade, apelou aos manifestantes “que façam coisa pacífica, porque só sendo pacífica a gente consegue as coisas – não adianta esta violência, não leva a nada”. <_o3a_p>
 

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