Paz com Israel: a primeira divergência entre as facções palestinianas após acordo de reconciliação

Mahmoud Abbas exige que o Hamas renuncie à violência. O grupo que controla a Faixa de Gaza não quer "negociações com o inimigo".

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Mahmoud Abbas (ao centro) no congresso do comité de líderes da OLP AFP

As duas facções palestinianas, que há dias anunciaram uma reconciliação, divergiram este sábado publicamente sobre as negociações de paz com Israel. Reagindo a um discurso do presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, que se mostrou disponível para dar sequência ao processo, o Hamas fez saber que “não dará qualquer cobertura a negociações com o inimigo".

Num discurso perante os líderes da Organização de Libertação da Palestina (OLP), Abbas especificou uma série de condições que o Hamas deve cumprir para fazer parte do anunciado governo de unidade, que conforme anunciado deve ser formado nas próximas semanas.

O Hamas — a facção palestiniana mais radical, que controla a Faixa de Gaza e que é classificada de terrorista por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia — deve reconhecer o Estado de Israel, renunciar à luta armada e aceitar os compromissos que o governo palestiniano assumiu internacionalmente, disse Abbas. O presidente da Autoridade Palestiniana — cuja sede está na Cisjordânia —  esclareceu ainda que o governo de unidade se dedicará apenas às questões internas, permanecendo a diplomacia e o processo de paz nas mãos da OLP (que não incluiu membros do Hamas), como até aqui.

Através do seu porta-voz, Sami Abu Zuhri, o Hamas reagiu às palavras que Abbas proferiu em Ramallah (Cisjordânia). Mahmoud Abbas, disse o porta-voz, deveria "anunciar a sua retirada imediata e total das negociações" com os israelitas. O grupo não reconhece o direito à existência do Estado judaico, que considera um inimigo.

Abbas também impôs condições a Israel para que o diálogo recomece. Disse que os 30 prisioneiros palestinianos que deveriam ter sido libertados no final de Março devem sair das prisões israelitas onde se encontram, e que no período de três meses previsto para a discussão das fronteiras os israelitas devem cessar as actividades nos colonatos nos territórios ocupados.

"Vamos discutir o nosso mapa durante três meses e nesse período, até o mapa estar traçado, as actividades devem cessar", disse o presidnete palestiniano, falando como se Israel não tivesse suspenso as negociações mal foi anunciada a reconciliação entre a Fatah (a facção de Abbas) e o Hamas. As negociações estavam a ser mediadas pelos Estados Unidos mas o Presidente Barack Obama, considerando que o acordo entre Abbas e o Hamas "não ajuda" o processo, disse que a sua Administração iria dedicar menos energia a esta tentativa de paz. Obama sugeriu que chegou o momento de fazer uma pausa nas negociações mediadas e de deixar que as duas partes (palestinianos e israelitas) tomem a iniciativa e cheguem a compromissos.

Este sábado, e também em reacção ao discurso do líder palestiniano, o Governo de Israel fez saber, através de um comunicado oficial, que, ao aliar-se ao Hamas, o presidente palestiniano "deu o golpe de misericórdia" no processo de paz.

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