Presidente da Venezuela anuncia prisão de três generais que preparavam golpe de Estado

Governo traçou estratégia para pôr fim à contestação. A destituição de presidentes de câmara também faz parte dela.

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Maduro reuniu com os ministros dos países da Unasur em Caracas Leo Ramirez/AFP

O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que três generais da Força Aérea foram presos por estarem envolvidos num golpe de Estado. "Vieram dizer-me que estava em curso um golpe", disse Maduro.

O Presidente, que há meses enfrenta uma vaga de contestação, disse na terça-feira que os três generais têm ligações à oposição e saudou os militares que lhe foram dizer que estava a acontecer um golpe de Estado.

"Ontem à noite capturámos três generais da aviação militar que estávamos a investigar por quererem incentivar as Forças Armadas Bolivarianas a insurgir-se contra o Governo", disse Nicolás Maduro, explicando que os militares pretendiam destituir "um Governo legitimamente constituído".

Não deu mais pormenores sobre o que se poderá ter passado, nem revelou o nome dos detidos. Mas estas prisões, explicam os analistas, servem para Maduro confirmar a tese que há muito defendia  a de que a Unidade Democrática, a ala mais radical da oposição, no sentido que tem exigido nas ruas a demissão do Governo e o fim do socialismo bolivariano, preparava um golpe de Estado.

O anúncio foi feito no dia em que chegou a Caracas uma delegação de alto nível (ministros dos Negócios Estrangeiros) da União das Nações Sul Americanas (Unasur) para uma visita de 48 horas à Venezuela. Os observadores consideram que Maduro escolheu o melhor momento para provar que o golpe de Estado de que falava era real e conseguir apoio regional, já que, nos fóruns americanos – sobretudo na União dos Estados Americanos (UEA) –, os países têm pedido ao Governo venezuelano para dialogar com a oposição e moderar o uso da força na sua tentativa de conter as manifestações.Na segunda-feira, a Colômbia e o Paraguai tinham pedido ao Governo de Caracas para permitir que os delegados da missão da Unasur se pudessem encontrar com oposição: "Devemos ter contacto com todos os sectores políticos e sociais do país".

Num hotel de Caracas, os delegados da Unasur encontraram-se com a ala mais moderada da oposição, reunida na coligação Mesa de Unidade Nacional. "Dissemos-lhes o que temos dito ao país: que estamos, como democratas que somos, disponíveis para o diálogo respeitoso, no mesmo pé de igualdade, e que possa ser presenciado por todo o país", disse, no final do encontro, Ramón Guillermo Aveledo, citado pelo jornal venezuelano El Universal. Como já tinha feito antes, a Mesa apelou a negociações entre a oposição e o Governo, mediadas por uma "terceira parte" independente, e considerou que a Unasur poderia assumir esse papel.

Esta quarta-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros da Unasur iriam reunir com representantes do Forum Penal que, diz o jornal venezuelano La Patilla (conotado com a oposição), iriam relatar os casos de violação de direitos humanos que estão a ser cometidos pelo Governo.

Desde o início de Fevereiro que Maduro enfrenta a contestação dos estudantes e da oposição devido à falta de segurança, à carestia de vida e à escassez de bens. Já morreram 30 pessoas em confrontos (polícias e manifestantes) e 400 pesosas ficaram feridas - centenas, segundo a oposição e os organismos de defesa dos direitos humanos, forma presas. "Maduro lê-se na edição desta terça-feira do El País está disposto a pagar qualquer preço para impedir que as vozes que mais lhe têm feito resistência neste último mês e meio de protestos tenham algum tipo de ressonância".

Num primeiro momento, o Governo venezuelano recorreu às brigadas civis revolucionárias para tentar travar as manifestações. Seguiu-se a mobilização da polícia e do Exército e a prisão de opositores. No dia 13, Nicolás Maduro anunciou que ia aplicar "medidas drásticas" contra os golpistas. Um passo da estratégia para pôr fim aos protestos está a ser a destituição dos presidentes de câmaras das cidades onde a contestação é mais forte e dura há mais tempo. O presidente da Câmara de San Cristóbal (onde a revolta dos estudantes começou) foi demitido. Na terça-feira, foi a vez de o autarca de Ceballos ser destituído pelo Supremo Tribunal, por não acatar as ordens de levantar as barricadas e pôr fim aos protestos dos estudantes na cidade. As autarquias de Baruta, El Hatillo e Chacao estão também na mira do Governo.

Vários líderes da oposição mais radical estão presos, entre eles o presidente do partido Voluntad Popular, Leopoldo López. A deputada María Corina Machado foi proibida pelo presidente do Parlamento, Diosdado Cabello, de entrar no edifício a maioria oficialista (do partido socialista bolivariano, no poder) preparava-se para lhe retirar a imunidade parlamentar, mas, no sábado, num comício dos seus apoiantes, Nicolás Maduro antecipou-se ao processo legal e disse que Machado já não era deputada, pois participara numa reunião em Washington da UEA integrada na delegação do Panamá.

María Corina Machado pode, uma vez sem imunidade parlamentar, ser acusada de provocar distúrbios públicos, como aconteceu a Leopoldo López. A deputada esteve na segunda-feira em Lima, no Peru, onde participou, a convite do Parlamento local, num encontro internacional da Fundação para a Liberdade e onde estão também os ex-presidentes Sebastián Piñera, do Chile, e Felipe Calderón, do México, e o Prémio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa. Em Lima, María Corina Machado deixou um recado a Cabello e Maduro: "Amanhã [esta quarta-feira] regresso ao meu país como deputada".
 

   

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