Perdão de dívida à Grécia ainda tem de ser maior que o previsto

Relatório do FMI obtido pela agência Reuters estima que para trazer a dívida para níveis sustentáveis pode ser necessário a Grécia não fazer pagamentos até 2045

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Christine Lagarde e Wolfgang Schäuble não concordam no tema da reestruturação de dívida AFP/FMI/Stephen Jaffe

A deterioração da conjuntura económica na Grécia nas últimas semanas, tornou o problema da sustentabilidade da dívida ainda mais grave e obriga a que uma reestruturação tenha de ser muito mais profunda do que aquilo que tem vindo a ser pensado pelos líderes europeus, defende o Fundo Monetário Internacional.

De acordo com a agência Reuters, que afirma ter tido acesso a um relatório entregue pelo FMI aos Governos europeus na segunda-feira, a entidade liderada por Christine Lagarde actualizou a sua análise da sustentabilidade da dívida grega, que tinha apresentado a 2 de Julho, e chegou à conclusão que o fecho dos bancos e a imposição de controlos de capital a partir de 29 de Junho estão a ter um impacto muito negativo nas perspectivas de evolução da economia e das contas públicas.

Por isso, avisa: “a dramática deterioração na sustentabilidade da dívida aponta para a necessidade de um alívio de dívida numa escala que precisaria de ir bem além do que aquilo que tem estado em consideração – e do que aquilo que foi proposto pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE)”.

Ainda segundo a Reuters, o FMI calcula que os países da zona euro teriam de permitir à Grécia um período de carência de 30 anos em que ficaria livre de encargos com os empréstimos, quer os antigos quer os que deverão agora ser disponibilizados, e também uma extensão muito dramática do prazo dado para pagamento da dívida. Outra hipótese colocada é a realização de cortes imediatos do valor da dívida nominal, que teriam de ser “profundos”.

No acordo que saiu da cimeira do passado fim-de-semana, os países da zona euro recusam a realização de cortes no valor nominal da dívida, mas colocam a hipótese de, após a primeira avaliação da troika ao futuro programa grego, haver um alívio da dívida por via de um alargamento do prazo de maturidade da dívida e do período de carência.

Não foi indicado qual a dimensão do alívio que se pretende dar, mas o relatório do FMI agora dado a conhecer pela troika indica que seria muito menor do que o a instituição sedeada em Washington considera necessário.

No início do mês, o FMI já tinha apresentado um relatório em que avisava para a necessidade de uma reestruturação de dívida muito significativa – algo que foi usado por Atenas como argumento para defender junto dos parceiros europeus a inclusão de um alívio nos encargos com a dívida no acordo.

Mas nessa altura, as contas do FMI ainda apontavam para que a dívida grega atingisse o seu pico nos 177% do PIB, caindo para 142% em 2022. Agora os números são ainda mais preocupantes: o novo pico será atingido nos 200% do PIB e, em 2022, a dívida ainda estará em 177% do PIB.

Apesar do relatório ter sido entregue aos Governos na segunda-feira, os ministros das Finanças da zona euro terão tido logo no sábado acesso aos números actualizados, no decorrer do Eurogrupo onde a directora geral do FMI também esteve presente.

Entre os Governos europeus e o FMI tem existido, no decorrer das negociações com a Grécia, uma divergência importante sobre este tema. Os países não mostram disponibilidade para realizar um alívio significativo da dívida, argumentando que tal seria um encargo significativo para os seus contribuintes, mas o FMI defende que sem alívio, a dívida não é sustentável, deixando a ameaça de não poder participar no terceiro resgate à Grécia.

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